Guerra paralisa o Paulista de 1924, mas não evita tri do Corinthians

Por Raoni David / FPF
Foto: Arquivo Corinthians

Em pé: Gelindo, Rafael, Rueda, Colombo, Del Debbio e Ciasca
Agachados: Peres, Neco, Pinheiro, Tatu e Rodrigues

Ao longo de seus quase 120 anos de disputa -o primeiro Paulistão aconteceu em 1902- o Campeonato Paulista viveu momentos semelhantes ao atual. Como em 1918, em decorrência da Gripe Espanhola, parar o principal estadual do país por motivos de força maior -como é a pandemia do Covid-19- também foi necessário em 1924. Na ocasião, por efeitos da ‘revolta tenentista’ o Paulistão parou por dois meses e o torneio do interior não foi realizado.

Bicampeão paulista, o Corinthians iniciava a temporada em busca de um inédito tricampeonato na sua história. Disputado inicialmente por 12 equipes, a competição daquele ano viu o Palestra Itália desistir da participação após perder os dois primeiros jogos e ter atletas suspensos por confusões nessas partidas. A postura palestrina era resquício ainda de discussões anteriores com a APEA, organizadora do certame à época.

Em campo, nomes lendários de um futebol brasileiro que ganhava cada vez mais popularidade. Neco, no Corinthians; Filó, na Portuguesa; Araken, no Santos; Feitiço, no São Bento; Heitor, em seus dois jogos pelo Palestra Itália; e principalmente Friedenreich, do Paulistano, primeiro ídolo do futebol nacional, dentre outros, encantavam os torcedores cada vez mais envolvidos com o esporte.

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A revolta tenentista - Uma guerra pouco conhecida, porém, quase impediu o término da competição. Iniciado em abril, o campeonato passava da metade do primeiro turno quando foi interrompido pela ‘Revolta dos Tenentes’. Liderado pelo general reformado Isidoro Dias Lopes, o tenentismo tinha ligações com a ‘Revolta dos 18 do Forte de Copacabana’, dois anos antes, no Rio de Janeiro. Dentre tantas reivindicações em especial aos militares, o objetivo principal era a deposição do presidente da república Arthur Bernardes.

Com 23 dias de duração, o conflito se iniciou em 4 de julho e foi bastante violento. Sem adesão popular, os tenentistas -e os civis paulistanos- sofreram bastante com os bombardeios ordenados pelas forças legalistas que apoiavam o presidente. Estima-se entre 500 a 800 mortos nas batalhas que se deram principalmente pelas ruas do centro da cidade de São Paulo. Cerca de 5 mil pessoas ficaram feridas e de uma população de 700 mil habitantes na capital, um terço se deslocou para o interior, às pressas, o que inviabilizou a disputa da Divisão do Interior daquele ano, já que cidades montaram abrigos para receber refugiados paulistanos.

Com o deslocamento dos rebeldes para o norte do Paraná, onde se encontrariam com a Coluna Prestes, que vinha do Rio Grande do Sul, a cidade de São Paulo contabilizava a destruição de pelo menos 1.500 edificações -dentre elas a sede do Cotonifício Crespi, fábrica na Mooca que deu origem ao Juventus, onde atualmente se encontra um supermercado- além de estimar um prejuízo de US$ 300 milhões. O conflito, porém, estava terminado com a desocupação da cidade em 27 de julho.


Volta - Em meio ao caos em que se encontrava a capital paulista, o futebol tinha caminho livre para retomar as atividades. Foi o que aconteceu em 17 de agosto, quando o Paulistano venceu o Corinthians por 1 a 0 e o Braz derrotou o Internacional por 2 a 1. Apesar da derrota para o principal rival pelo título, o time corintiano liderou o primeiro turno que classificava oito equipes para o segundo turno e de onde seria decidido o campeão em pontos corridos.

A partida que decidiu o título e o tricampeonato corintiano aconteceu somente em 11 de janeiro de 1925. Paulistano e Corinthians se enfrentavam no Jardim América e a taça seria do vencedor do confronto. Com gol de Tatu, já no segundo tempo, os corintianos venceram por 1 a 0 e faturaram a sua quinta conquista estadual, contra oito do rival derrotado naquele dia.

Eram, até então, os maiores vencedores de um campeonato que resistiu à barbárie de um conflito que subjugou moradores de uma São Paulo que crescia e viria a se tornar a maior cidade da América Latina.
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