Celtic, Liverpool, Everton e o desprezo pelo Reino Unido

Por Lucas Paes
Foto: Arquivo

Torcida do Celtic se orgulha das origens irlandesas

Recentemente, o mundo viu a história ser escrita e foi balançado pela notícia da morte da Rainha Elizabeth II, do Reino Unido. A notícia rodou o país inteiro e gerou comoção e adiamentos, incluindo ai respingos no futebol, com a rodada do futebol sendo adiada tanto na Inglaterra, quanto na Escócia, quanto no País de Gales. Porém, a morte da monarca não causou o mesmo tipo de comoção em alguns clubes. O Everton prestou suas condolências e foi inundado por "carinho" da torcida, o Liverpool foi o último clube inglês a prestar luto e ainda fechou a publicação. O Celtic segue sem sequer se enlutar. A história e origem permitem nos entender o porque disso.

Antes de mais nada é preciso esclarecer que ainda que Elizabeth passassem imagem simpática, a rainha representava uma coroa que é sim com muita justiça odiada por muitos povos. O Reino Unido foi responsável pelo sofrimento de diversos povos, desde as covardias desumanas cometidas na África até a guerra das Malvinas que envolveu a Argentina. A cidade de Liverpool e o Celtic possuem motivos mais específicos para não lamentar a morte da monarca.

O contexto de Liverpool e Everton se relaciona diretamente a cidade do qual eles são parte. O município de Liverpool é uma zona de indústrias e de um porto que sempre foi muito miscigenada com imigrantes e sofreu ao longo de toda sua história com preconceito e desprezo por parte dos londrinos. O sentimento de não pertencimento só aumentou durante o governo de Margareth Tatcher, que foi responsável pelo fechamento de diversas fábricas e fechou o cerco aos sindicatos. O catalisador final, porém, ocorreria em 1989 e seria diretamente relacionado ao futebol.

A tragédia de Hillsborough, onde 96 torcedores do Liverpool morreram no Estádio de Hillsborough na semifinal da FA Cup daquele ano, foi durante muitos anos atribuída de maneira errônea e injusta ao comportamento de torcedores dos Reds. A movimentação feita pelo governo Tatcher através do Relatório Taylor e a campanha do jornal The Sun promovendo a versão de que os próprios torcedores não deixavam o resgate ocorrer romperam qualquer tipo de relação da cidade, já que o Everton ofereceu solidariedade, quanto ao governo central. Desde então, a população da terra dos Beatles odeia Londres e tudo que ela representa. Portanto, não é de se estranhar que o Liverpool tenha demorado tanto a prestar condolências e que o Everton tenha sofrido uma enxurrada de comentários negativos de sua própria torcida. Pelo menos no caso da rainha, só houve o desprezo e não a literal festa na morte de Tatcher.

Já o Celtic sequer se prestou a mostrar condolências. O principal time da Escócia segue, mesmo após quase uma semana da morte, sem sequer colocar luto nas suas redes sociais. O caso dos alviverdes é muito mais profundo e, de certa forma, muito mais pesado do que o motivo do Liverpool, já que o clube se orgulha das suas origens Irlandesas e, não surpreendentemente, na Irlanda a morte de Elizabeth foi motivo de festa.

Não necessariamente a rixa irlandesa é pessoal com Elizabeth, que nem era nascida na época da guerra de separação da Irlanda, mas sim com o governo britânico como um todo. A Irlanda, hoje uma república, teve de travar sangrentas batalhas para poder se separar do governo central e milhares de mortes ocorreram, o que criou um sentimento de ódio da população quanto a Londres. O sentimento nunca diminuiu e a morte de Elizabeth acabou sendo comemorara pelos irlandeses. O Celtic honra completamente suas origens ao sequer lamentar o fato.


No fim das contas, o desprezo da cidade de Liverpool (e principalmente da torcida dos Reds) e do Celtic com a morte de Elizabeth parte de um mesmo sentimento: não pertencimento. Não raro é comum ver em Anfield bandeiras que afirmam que os torcedores "não são ingleses e sim scousers". A cultura e o próprio sotaque da cidade diferem muito do resto do país. De certa forma, o time por muitos anos foi o principal do futebol inglês (e segue sendo um deles) não se importaria de não ser parte da Inglaterra ou do Reino Unido. Da mesma forma o Celtic também não se importaria de não ser escocês. No fim das contas, é isso que explica porque estes clubes tão pouco se importam com o Reino Unido.

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