Um dia de magia e realeza no Estádio da Luz

Por Lucas Paes
Foto: Arquivo/Santos FC

Pelé prestes a marcar contra o Benfica

Os sonhos são capazes do impossível, de transportar para lugares improváveis, para coisas que você não viveu. Há quem acredite que os sonhos são capazes de te transportar para realidades paralelas. Um sonho de muito é ver Pelé jogar. O Rei do Futebol, eterno monarca deste tão nobre jogo, completa neste dia 23 seus 80 anos. Esse relato pode ser real, fictício, imaginado, o que você decidir, mas permita-se se inserir na história. A narração será em primeira pessoa.

Em uma dessas noites qualquer, de repente me vejo em um antigo estádio imenso e vermelho como o inferno. Uma vermelhidão infinita, bonita até da tribuna de honra. O cheiro da grama verde se soma ao ar claramente lusitano de Lisboa e percebo que o sonho me trouxe ao Estádio da Luz, mas não o atual, o antigo, um caldeirão infernal com capacidade para quase 100 mil benfiquistas. Aos poucos, as pessoas vão ocupando os lugares e eu percebo que é dia de jogo. Em alguns instantes, chega ao meu lado um senhor bigodudo que penso ser um português e quando pergunto sobre o evento entendo que o sonho me trouxe há 1962. Saudoso e grandioso Athiê Jorge Coury me pergunta o que espero do nosso Santos na final e eu não tenho coragem de contar que já sei o que aconteceria porque sinceramente, estava abismado que viveria aquela mágica.

Diante de uma multidão de portugueses, entram em campo dois esquadrões, o líder José Águas e Eusébio comandam os encarnados, que entram com seu conhecido uniforme em vermelho e branco, enquanto do outro lado, o ataque poesia não contava com Mengálvio, mas ainda tinha Dorval, Coutinho, Pelé e Pepe. Um time que trazia uma fúria dentro de um uniforme branco e em sua camisa 10 um homem negro que constratava com a branquidão da camisa e que, de muito longe, lá de cima, passava uma aura de realeza, de império, de domínio. Ali tive certeza que o show seria do time de branco.


E o Alvinegro Praiano era realmente impressionante, a multidão e eu me incluo nisso assistia estupefata a um espetáculo extraterreno. Assistia estupefata ao monarca do esporte bretão. O primeiro gol santista vem num torpedo cruzado de Pepe que Pelé completa para as redes. O espétaculo, o recital havia começado. O Benfica, coitado, parece não entender o que está acontecendo. Perdido, atônito, vê o Rei, artista nobre que é, fazer mais uma de suas obras primas, fintando os atônitos defensores lusos e soltando uma pancada de esquerda para ampliar a vantagem santista rumo ao título. O espetáculo continua, mas os benfiquistas conseguem evitar o terceiro gol santista, numa vantagem já quilométrica do Peixe, que já havia vencido no Rio de Janeiro.

O segundo tempo mal começa, as pessoas mal tem temo de se acomodar nas tomadas arquibancadas, e o Peixe já buscou o terceiro. Aos cinco minutos, Pelé simplesmente desmontou todo o time do Benfica, desmoralizou a equipe portuguesa, passou por todo mundo e apenas rolou para Coutinho marcar o terceiro. Aquela altura, atordoados, os portugueses só pediam pelo fim do massacre. Pelé estava em um dia infernal. No terceiro gol, aos 19 minutos, o Rei simplesmente passa novamente por toda a defesa benfiquista e até para em Costa Pereira, porém, a redonda, parecendo ser ordenada sobrenaturalmente para atender os desejos do Atleta do Século, volta no pé do camisa 10, que coloca ela nas redes. 4 a 0. O último gol santista no jogo viria aos 32' do segundo tempo, quando Costa Pereira falhou feio ao impedir uma arrancada de Pepe e viu o camisa 11 ir as redes. O título estava consumado, que espetáculo.


Desesperado, o Benfica ainda buscou dois gols, pouco notados por mim, por Athiê e pela comitiva santista em meio a uma enorme festa. Ah Rei do Futebol, tua coroação definitiva, para quem ainda duvidava, veio naquele dia, de um verdadeiro espetáculo do melhor time do mundo diante do melhor time europeu. Que sonho poder ver aquilo ao vivo, é uma pena que acordamos de todos os sonhos. A mágica do futebol é essa, transformar simples seres-humanos em super-heróis.

O esporte bretão, de tantos craques, tantas lendas, tantos absurdos jogadores, de Garrincha, Di Stéfano, Puskas, Cruyff, Messi, Cristiano Ronaldo, Fenômeno, Ronaldinho Gaúcho, Diego Maradona, Eusébio... São tantos, de tantas nacionalidades. Mas, o fato é que majestade, só existe um. Vida longa a Pelé, o Rei do Futebol.

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