A irresponsável tentativa de volta do Campeonato Carioca em meio à pandemia

Por Diely Espíndola
Foto: Mailson Santana / Fluminense FC

Só Botafogo e Fluminense, na foto antes da quarentena, não assinaram o documento pela volta

Na última sexta-feira (8), a FFERJ, organizadora do Campeonato Carioca, divulgou em seus perfis uma nota oficial sobre a reunião feita com todos os clubes da primeira divisão, sobre a retomada do estadual. Junto à nota, as assinaturas dos clubes que concordavam com a medida. Todos assinaram, exceto Botafogo e Fluminense. 

As alegações e argumentos para o retorno do campeonato são muitas, especialmente econômicas. Mas há diversos fatores que precisam ser considerados e expostos nesta equação, que por sua vez não fecha. 

Em primeiro lugar, o Rio de Janeiro tem sofrido há anos com a corrupção do governo estadual, e uma das áreas que mais sofre com ela é a da saúde. Como resultado, temos (segundo dados da última checagem), cerca de mil pacientes infectados com corona vírus aguardando vaga na rede pública de saúde. Além disso, os hospitais de campanha estão com a entrega atrasada, sendo um dos últimos do país a começarem a operar. Todos estes fatos por si só já deveriam ser suficientes para que não fosse sequer um assunto em pauta retomar o futebol, atividade que por mais que amemos, não é vital para o funcionamento do país. 

Isso posto, precisamos falar sobre os argumentos utilizados pela FFERJ, pelos clubes, e pelos torcedores que apoiam a decisão. 

Houve quem falasse em cotas de transmissão, que seriam vitais para a sobrevivência dos clubes. Bem, levando em consideração a hegemonia dos 4 grandes, e o fato de que entre os pequenos são poucos os jogos transmitidos no campeonato carioca, que raras vezes vão além da fase de grupos, este argumento não se sustenta. Além do fato de que o Flamengo não está tendo seus jogos transmitidos pela Globo, por vontade do próprio clube, o que faz com que os clubes do grupo do Flamengo na competição tenham dois jogos por turno a menos sendo transmitidos. E se o Flamengo não estava preocupado com suas cotas de transmissão durante todo o ano, porque agora? 

Ainda sobre clubes pequenos, a FFERJ não é exatamente a maior defensora deles. Tampouco facilita suas existências. Ano após ano seus regulamentos reforçam a hegemonia, prejudicam os pequenos, tiram dinheiro, e tudo mais que possa dificultar a sobrevivência destes clubes. 


Assim, se torna claro que o retorno do campeonato não é responsável, nem pautado em nenhuma lógica que possa justifica-lo. Nem renda de ingressos os clubes teriam. É simplesmente um retorno para contrariar as recomendações, e parece uma vontade infantil de medir forças com órgãos regulamentadores da saúde. 

Pior, surpreende e revolta que um clube como o Flamengo, cujo quadro de funcionários possui uma taxa de 13 de infectados, tendo inclusive vítimas fatais, apoie o retorno. Uma insensibilidade revelada também pela fala de Jorge Jesus, que alegou não haver riscos para o retorno, já que “os jogadores irão às partidas isolados em seus carros”. Mas e as comissões técnicas? E os jornalistas? E os clubes pequenos? O mundo não gira em torno da realidade do Flamengo e seus bilhões de reais. 

A FFERJ mostra um suposto apreço e preocupação com o futebol carioca que não vemos nos anos anteriores, e que são motivo de diversas brigas, embates, lutas, inclusive com o próprio Flamengo tendo proposto um campeonato independente dela. Agora, no entanto, parecem ser melhores amigos, unidos por um propósito que não beneficia ninguém. Talvez só eles mesmos.
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