O Botafogo e La Coruña: o dia em que o Alvinegro deixou de ser preto e branco

Por Diely Espíndola
Foto: Santiago Lyon / AP Photo

O Botafogo, com a camisa do Deportivo La Coruña, encarando a Juventus

O Botafogo tem um passado cheio de glórias, com algumas décadas que se destacam por terem sido marcadas por elencos incríveis e títulos históricos para a torcida do Glorioso. Uma dessas décadas foi a de 90, lembrada principalmente pelo título brasileiro em 1995. Mas a trajetória alvinegra naqueles tempos foi muito além das histórias mais conhecidas pelo público. 

Em 1996, o Botafogo estava sob todos os holofotes do futebol após vencer o Campeonato Brasileiro. Assim sendo, foi convidado para disputar diversas taças amistosas pelo mundo, as quais venceu todas. Após passar por países como Japão e Rússia, o Alvinegro desembarcava na Espanha para disputar a Taça Teresa Herrera. No entanto, o desenrolar da competição não saiu como o esperado, e as circunstâncias da disputa acabaram sendo tão marcantes quanto a conquista dela própria. 

Antes sequer da primeira partida, o Botafogo já se deparava com alguns imprevistos. A cota por partida para o Alvinegro era de R$50 mil valor cinco vezes menor que o valor pago à Juventus, por exemplo. Além disso, o clube ficou hospedado num hotel três estrelas, enquanto todas as outras delegações tiveram direito a se hospedar no hotel mais caro da região onde o torneio foi disputado.

Mas estes contratempos seriam pequenos diante do que ainda estaria por vir para o Botafogo: a impossibilidade de ser campeão carregando a Estrela Solitária no peito. 

Na primeira partida, o Botafogo eliminaria o anfitrião da competição, o La Coruña, vencendo por 2 a 1. O adversário do Glorioso na final seria então a Juventus, que passou pelo Ajax com a volumosa vitória por 6 a 0. Seria o duelo alvinegro na final, e foi justamente essa uma das causas da situação inusitada que chegaria para o Botafogo. 


Antes da partida, a Juventus solicitou ao Botafogo que o número de substituições permitidas no jogo pudesse passar de três para cinco. O Botafogo não aceitou a proposta, o que gerou um desentendimento entre as duas equipes. Enquanto isso, a Juventus tinha um direito garantido por ser o clube mais antigo entre os dois: o de escolher o uniforme a ser usado na partida. A Vecchia Signora escolheu seu uniforme principal, preto e branco. Como por regulamento os times não podem usar uniformes iguais, ou que sejam difíceis de distinguir, a Juventus acabou deixando ao Botafogo a única opção de usar seu uniforme secundário. E aqui começou a confusão. 

Há algumas versões diferentes sobre o porquê de o Botafogo não ter usado o tal uniforme. Alguns dizem que a delegação não levou uniformes além do principal. Outros dizem que o árbitro teria implicado com o fato das mangas serem listradas, e que apesar da camisa preta, seriam parecidas demais com a do oponente. 

Independente do motivo, fato é que o Botafogo não pode entrar em campo com seus uniformes para disputar a grande final. E voltar para casa não era uma opção para o aguerrido Alvinegro carioca. 

A salvação viria pelas mãos do La Coruña. O time galego emprestaria ao Botafogo seu uniforme principal, azul e branco, para que o Glorioso pudesse disputar a final sem mais delongas. E foi assim, que mesmo diante de imprevistos, de dificuldades, o Botafogo soube fazer frente à Juventus e se agigantou em campo.

Vídeo do Brisa Esportiva

A Juventus começou abrindo o placar, mas não demorou até que tomasse o empate. E assim foi até o fim da partida: o time italiano marcava, e o Botafogo igualava o placar. Até que já no fim da partida, com o Botafogo perdendo por 4 a 3, e ninguém mais esperando outro campeão além da Juventus, Túlio sofre pênalti, e ele mesmo cobra e mais uma vez deixa tudo igual entre os alvinegros. 

A partida foi para os pênaltis, e após grande atuação de Wagner, que pegou três pênaltis dos italianos, o Botafogo se sagrou o campeão da Taça Teresa Herrera. A Juventus não marcou sequer um gol na disputa dos pênaltis. 

E assim, sem pompa, sem favoritismo, o Botafogo mais uma vez dava uma aula de superação, garra, e mesmo sem vestir a pesada camisa Gloriosa, levava para casa uma das Taças mais emocionantes de sua história.
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