Há 10 anos, um antigo sonho corintiano se realizava. A Libertadores era do Timão!

Por Bruno Filandra Lopes
Foto: arquivo

O capitão Alessandro levantava a Taça Libertadores

"Se for pra chorar, que seja de alegria". Essa foi a frase que escrevi no Facebook no primeiro minuto daquele 4 de julho de 2012. O sentimento dos corintianos estava aflorado. E a prova disso, foram os rojões que se ouviram ao longo de toda aquela quarta-feira. "Parabéns, torcedor corintiano. A cidade está linda", declarou Mano, na abertura do Estádio 97.

E num momento histórico, não faltaram casos inusitados. Sem ingresso, alguns torcedores entraram no Pacaembu na parte da tarde e se esconderam nos banheiros químicos até a hora da partida. A Federação Paulista de Futebol recebeu um número recorde de pedidos de credenciamento.

Eu, que fiquei fora ao longo de todo o campeonato, decidi não ir. Primeiro pelo preço absurdo que estavam pedindo em um ingresso. Segundo, que achei que poderia dar azar ao clube, por só ir ao jogo decisivo. Como havia feito nos últimos três jogos, fui ao Camaleão.

Se no primeiro jogo contra o Santos o bar estava vazio, naquele dia não se andava dentro dele. Assisti do lado de fora, até pra poder fumar. E como fumei. E como havia prometido, não bebi. No Pacaembu, quase 38 mil presentes.

O primeiro lance de perigo corintiano foi aos 11 minutos. Alex arriscou de fora da área, Orion defende, a bola escapa e ele a segura de vez na sequencia. Aos 16, Emerson Sheik avança pela direita, entra na área escapando da marcação, e Sornoza afasta a bola pra fora.

O Boca Juniors sofre uma baixa aos 33', quando o goleiro Orion é substituído por Sosa Silva. As equipes até foram ofensivas nos últimos minutos, mas o primeiro tempo termina sem gols. Porém, no segundo tempo, não iria demorar muito para a bola balançar a rede.

Aos 8 minutos, em cobrança de falta pela direita, Alex manda a bola na área e Jorge Henrique desvia de cabeça. Após disputa aérea pela bola entre Danilo e Sosa, ela sobra para o meia corintiano, que toca de calcanhar para Emerson Sheik, que finaliza: 1 a 0 Corinthians.

Atrás no placar, o Boca Juniors parte para o ataque e quase empata aos 26'. Riquelme lança a bola na área, Erviti cabeceia e Cássio pula para fazer a defesa. Entretanto, segundos depois, Schiavi erra o passe e Emerson Sheik dispara com a bola, entra na área e chuta à esquerda de Sosa Silva: 2 a 0 Corinthians.

Enquanto o Camaleão vibrava, ajoelhava no chão da rua e agradecia com as mãos pra cima. Estava em extase. Vivendo um sonho. Uma moça que assistia ao jogo ao meu lado, disse uma frase que me marcou para sempre: "Já olhou pra lua hoje? São Jorge está lá!".

O jogo segue e Emerson Sheik e Caruzzo começam a se provocar, com o atacante corintiano chegando a dar cara para o adversário bater. Os minutos passavam e ambos continuavam se provocando. Até o momento em que o árbitro Wilmar Roldá separa os dois.

Na sequencia, Chicão cobra falta perigosa e bola vai pra fora. Aos 43, Santiago Silva avança pra área e faz um chute cruzado. Cássio defende. Após o lance, a tv mostra a mordida de Emerson Sheik nos dedos de Caruzzo. Minutos depois, o árbitro encerra não só a partida, mas o fim do calvário corintiano na competição.

Ao fim do jogo, eu entro em choque, sem esboçar reação alguma. A espera foi tão grande que custava a acreditar na hora. Só quando um vendedor de faixas passa na minha frente que eu começo a celebração. Diego, um antigo colega de escola, não gostava de futebol e acompanhava tudo de perto. Na catarse, pegou minha faixa e colocou nele. A Praça Silvio Romero lotava conforme os minutos passavam.


Certo momento encontrei Bruno, um conhecido do bairro. Em êxtase e alegre de bebida, disse que seu filho se chamaria Emerson. Ainda não é pai, mas hoje ele tem um cachorro chamado Sheik. Faltando três horas para acordar pra trabalhar, chego em casa.

Ainda é estranho pensar que sendo uma pessoa tão emotiva, não tenha chorado em nenhum momento. Mas lembro de tudo passados dez anos. Foi sem dúvidas um dos momentos mais emocionantes da minha vida. E tenho certeza que também foi de outros milhões de torcedores corintianos. Naquele 4 de julho, historicamente lembrando pela independência dos Estados Unidos, o Corinthians estava liberto. Era enfim, campeão da Libertadores.
←  Anterior Proxima  → Inicio

0 comentários:

Postar um comentário

O Curioso do Futebol

O Curioso do Futebol
Site do jornalista Victor de Andrade e colaboradores com curiosidades, histórias e outras informações do mundo do futebol. Entre em contato conosco: victorcuriosofutebol@gmail.com

Twitter

YouTube

Aceisp

Total de visualizações