Guardiola e a Liga dos Campeões - Um problema que talvez seja "do treinador"

Por Lucas Paes
Foto: Reuters

Guardiola se deu mal de novo na Liga dos Campeões

O Manchester City caminha a passos largos para mais um título do Campeonato Inglês. Sob a batuta de Pep Guardiola, o time azul claro fez campanhas inalcançáveis em praticamente todas as edições da Premier League que disputou e conseguiu num momento decisivo colocar a diferença para o Liverpool de Klopp em três pontos. Porém, o histórico treinador espanhol, um dos maiores do futebol em todos os tempos segue sofrendo com um crônico problema na Liga dos Campeões e este, por incrível que pareça, talvez venha mesmo dele.

É preciso lembrar aqui que Guardiola já venceu a Liga dos Campeões por duas vezes em sua carreira com o Barcelona, mas falhou em todas as oportunidades que teve de fazê-lo depois, no Bayern e até o momento no Manchester City. Mestre de mudanças táticas impressionantes e de adaptações incríveis, o espanhol montou e arquitetou um dos maiores times da história quando treinava o Barcelona e, inclusive, talvez as "orelhudas" ganhas na Catalunha sirvam para dar ênfase neste ponto que o texto defenderá.

No que se refere a padrão tático, os times de Pep são montados para uma perfeição impressionante. Eficientes, suas equipes são marcadas por aproveitamentos assustadores na pontuação dos campeonatos que fazem, por exemplo, um time com 97 pontos perder o título para ele. Em geral, as equipes dele mostram um funcionamento muito redondo e conciso, com uma impressionante força ofensiva que por vezes compensa algum problema defensivo que pode e vai acontecer quando se joga com a linha alta. Porém, essa mecanização talvez exponha justamente a falha que tanto atrapalha Guardiola (e que tanto beneficia sujeitos como Klopp e Ancelotti). 

Não se trata de um simples chavão ou de um clichê e sim de uma verdade: jogos de mata-mata são sim um perfil diferente de um jogo de campeonato valendo pontos corridos, principalmente quando este mata-mata é a principal competição do continente. Na maioria das vezes, num jogo de pontos corridos, a eficiência e a qualidade ditarão vencedores, porém, em jogos eliminatórios são precisas doses de ousadia, coração, malícia, força mental e, por falta de uma melhor definição, raça, que os times de Guardiola não parecem ter. 

Lembremos da maneira como Pep ganhou duas vezes a Liga dos Campeões no Barça. Em 2009, de certa forma, a equipe catalã mostrou essas características ao vencer a competição, principalmente na complicadíssima semifinal diante do Chelsea, onde o time contou com uma ajudinha de erros de arbitragem, o que não tira o mérito azulgrana. Dois anos depois, o título veio com um time que era simplesmente tão superior que atropelou todo mundo que apareceu pela frente, inclusive o outro finalista na decisão. As eliminações do Barça de Pep, porém, principalmente a que ocorreu diante da Inter já mostraram a característica que parece assombrá-lo até hoje: a falta de mentalidade em jogos eliminatórios. 

Diante da Inter, quando fazia um bom jogo no lotado San Siro, o Barcelona acabou perdendo a vaga na decisão em 15 minutos de completo abalo mental e técnico que só não permitiram que a Inter goleasse pois o time nerazzurro ainda desperdiçou ótimas chances. Aquela foi a primeira ocasião que já deveria ter dado o alerta sobre essa circunstância. No Bayern, as eliminações sofridas para Real e Barça se deram também com suas equipes perdendo o controle mental do duelo após a situação ficar adversa no jogo. Necessário esclarecer, porém, que na final da última Liga dos Campeões, a derrota do City se deu por erros do espanhol, que montou mal seu time e mexeu de maneira pior ainda, entregando o jogo de bandeja ao inteligente treinador do Chelsea. 

A última eliminação do Manchester City, no recente confronto com o Real Madrid, parece porém ser uma reunião desses desastres: os Cityzens simplesmente dominavam a partida, tinham chances de marcar mais gols e mostravam a superioridade que de fato existe entre os dois elencos com um domínio amplo. Pep se sentiu a vontade para mexer tirando inclusive Kevin De Bruyne do jogo, o que se provou um tremendo erro de julgamento. Se sobra a virtude de jogar futebol, faltou talvez a maldade ao time inglês. Vencendo uma semifinal diante do maior campeão da Liga dos Campeões no Bernabéu, a melhor estratégia talvez seja deixar o jogo pouco rolar para não dar brechas a Benzema e Vinicius Júnior. O City deu as brechas, viu Rodrygo fazer dois gols quase instantâneos e perdeu completamente o controle.

Façamos um contraponto que, apesar de injusto, tem de ser colocado aqui, pois exemplifica a diferença de entendimento da mentalidade de partidas deste tipo: no dia anterior, após ser dilacerado no primeiro tempo e agradecer por perder apenas por 2 a 0 para o Villareal no Madrigal, o Liverpool de Klopp reagiu no segundo tempo e virou. Porém, talvez o melhor exemplo contrário ao City é o time que o eliminou: o Real Madrid foi nesta Liga dos Campeões um especialista em virar situações improváveis, tanto contra o PSG nas oitavas como contra o Chelsea nas quartas. 


Entre as reflexões que faz em seu trabalho, Pep Guardiola talvez tenha de perceber que a mentalidade mecanizada e perfeccionista não serve e não servirá para o imponderável do mata-mata. O Manchester City precisa entender que as vezes não se tem mais jogo, que as vezes é preciso catimbar, que é preciso ter uma força mental inabalável para conquistar um campeonato onde um erro de segundos pode virar uma tragédia. Talvez, por mais genial, revolucionário e incrível que o espanhol seja, a Liga dos Campeões seguirá sendo um curioso e doloroso calcanhar de aquiles. 
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