Na Bélgica, KV Oostende entra em processo de falência e torcedores fazem velório

Por Lucas Paes
Foto: Reprodução/Twitter

Torcedores do Oostende protestam contra a falência do clube

Administrações ruins não são exatamente novidade no futebol mundial. Passando pelo Brasil, onde os exemplos são quase incontáveis, mas caminhando também pela Europa, com clubes muito famosos e rodando o planeta inteiro, os desmandos e erros de donos e presidentes e donos de clubes de futebol são um lugar infelizmente muito comum no esporte bretão. Na Bélgica, o KV Oostende, presença comum na primeira divisão na última década, está perto de fechar as portas. Na tarde europeia da última terça, dia 4, os torcedores fizeram um "velório" para o time na Diaz Arena, em um caso que precisa ser catalisador para um maior rigor contra donos de futebol.

Fundado em 1904, o Oostende não é exatamente um supercampeão do futebol local. Quase sempre perambulando entre a primeira e a segunda divisão, os Kustboys tiveram um sucesso maior em anos recentes, com presenças quase constantes na primeira divisão e algumas campanhas de meio de tabela, além de uma participação na Europa League. Tudo isso foi por água abaixo após uma calamitosa administração por parte, principalmente, do Pacific Media Group.

O Oostende se fez presente na primeira divisão da Bélgica em sequência entre 2014 e 2023. No meio desses anos, fez uma campanha história em 2015/2016, quando ficou em quarto lugar e chegou a disputar a rodada do título do campeonato local, terminando na quinta colocação geral. Desde 2017, porém, a situação do clube vinha caminhando por água abaixo e o rebaixamento em 2023 veio após anos de caos administrativo, culminando na impagável dívida que levará o clube a falência. A equipe perdeu a licença profissional local e sequer consegue voltar no amadorismo devido a suas dívidas.

Foi graças a essa falência que os torcedores fizeram um "velório" para o clube, onde a tristeza pelo fim da instituição se juntou a vários protestos contra a empresa que comandou o clube até sua falência, a Pacific Media Group. Os torcedores penduraram diversas faixas protestando contra Cornway e seus colegas e também avisando que vão voltar. Para "sobreviver", o Oostende terá provavelmente que ser "refundado' e reconstruído justamente por seus torcedores e começar do amadorismo.

Não é absurdo dizer que a Pacific Media Group cujo dois nomes mais chamativos são Paul Cornway e Chen Lee, é de fato a responsável pelo fim do Oostende. Os dois e sua empresa tem um histórico surreal de administrações calamitosas que faz questionar como tais sujeitos ainda são permitidos no mundo do futebol. Para os curiosos (que entendam inglês), a Sports Investment tem um enorme artigo sobre a PMG, mas aqui vamos resumir um pouco a história deles. 

Consistindo da junção de duas empresas, a Pacific Media Group era apenas um grupo que investia em mídia até meados de 2015, quando comprou o Nice, fez uma boa temporada e acabou o vendendo por um lucro enorme para Daniel Ratcliffe, sim, o dono do Manchester United. Com o dinheiro dessa venda, a PMG passou a comprar diversos clubes e implantar neles uma filosofia extrema baseada no conceito do Moneyball: jogo baseado no "gengenpressing", que fez com que a empresa trouxesse vários jovens treinadores alemães tentando achar um novo Klopp e um foco total em jogadores jovens que depois poderiam ser vendidos. Assim, eles adquiriram sete clubes diferentes e entre várias situações caóticas, conseguiram levar um deles a falência (e serem odiados nos outros).

O PMG tem ou teve em seu portfólio, além do Oostende, o Barnsley, da Inglaterra (de onde foram basicamente "expulsos" em 2022 após diversos problemas administrativos e acusações de violação de regras financeiras), o Nancy (que chegou a cair para a quarta divisão nas mãos da PMG), FC Thun (tentando voltar a primeira divisão suíça, talvez o caso menos pior deles), Esbjerg, da Dinamarca (que foi rebaixado para a a terceira divisão depois de 28 anos entre a primeira e a segunda no comando da PMG e agora tem donos locais), KV Den Bosch, da Holanda (rebaixado para a terceira divisão neste ano) e o tradicionalíssimo Kaiserslautern, onde para a sorte do time alemão eles só possuem 10 por cento do clube.


O Oostende não teve tanta sorte como alguns dessa lista. Seguindo nas mãos do Pacific Media Group, o clube chegou a uma situação insustentável, após anos com a filosofia do grupo piorando as coisas por lá e vai deixar de existir, pelo menos como é hoje. O "velório" feito pelos torcedores em seu estádio marca o fim de uma história que poderia facilmente ser evitado caso o futebol como um todo fosse um tanto mais rigoroso com um grupo cuja atuação dentro do esporte parece uma "metástase", destruindo por dentro os clubes que compra até que eles cheguem perto de sumir.

Na Bélgica, já chegam pedidos para que Paul e sua turma sejam banidos do futebol. Em meio a isso, a PMG segue buscando clubes para implantar sua caótica filosofia. O que faz esse texto terminar com as seguintes perguntas: quantos clubes mais fecharão as portas nas mãos de grupos como esses antes que eles sejam banidos do futebol? E até quando empresas levarão clubes a destruição sem serem responsabilizadas ou fiscalizadas por algum órgão relacionado a FIFA? Aos torcedores do Oostende, restará o triste lamento e o choro no velório do clube. Aqui no Brasil, resta ficar alerta com algumas das SAFs, que de sonho podem virar pesadelo e "morte". 
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