UEFA e Paris têm de aprender com a final da Champions para que não ocorra uma tragédia no futuro

Por Lucas Paes
Foto: Getty Images

Torcida do Liverpool nos arredores do Stade de France

A final da Liga dos Campeões é o jogo do sonho de todo o torcedor no futebol europeu. Um evento de gala conhecido mundialmente, o duelo que define o dono da orelhuda é teoricamente um espelho de como se organiza um evento para o mundo. As cenas de confusão em Paris, porém, em 2022, foram um espelho negativo de como tudo pode ser feito de maneira errada em uma partida com grande envolvimento de público. A capital francesa deu mostras de que claramente não se preparou direito e causou um terror conhecido e inaceitável para a torcida de um time que sofreu com a maior tragédia do futebol europeu pelos mesmos motivos. E não podemos esquecer de algo importantíssimo: Paris é a sede dos Jogos Olímpicos de 2024.

O clichê de que as torcidas europeias não são fanáticas como as brasileiras e sul-americanos é uma imensa mentira. O velho continente possuí torcidas tão fanáticas quanto em qualquer outro lugar e a final da Liga dos Campeões de 2022 envolvia uma das mais malucas do Velho Mundo. Os torcedores do Liverpool são reconhecidos desde sempre por simplesmente "invadirem" os locais onde os Reds vão fazer finais ou jogar e já cansaram de ser a maioria em jogos onde teoricamente o campo era neutro. A polícia de Paris pareceu não estar pronta para isso. Parecia também, não estar pronta para os problemas que seus próprios residentes podiam causar.

O primeiro ingrediente no caldeirão da poção da desgraça foi jogado quando nem UEFA, nem prefeitura e nem nenhuma autoridade envolvida desenvolveu um esquema suficiente para evitar que pessoas sem ingressos ou com ingressos falsos se aproximassem do perímetro do estádio. Nisso, no lado da torcida que levou mais de 50 mil dos seus para a capital francesa, começou um perigoso acúmulo de pessoas no acesso do estádio. Se juntaram a isso jovens marginalizados dos arredores nos subúrbios de Saint Denis e então começou o borbulhar que por muita sorte não virou uma segunda Hillsborough.

Inicialmente, a UEFA culpou torcedores do Liverpool que chegaram atrasados ao local pelas confusões, mas apurações da mídia britânica provaram que o cenário não foi esse. A imensa maioria dos torcedores dos Reds chegou aos arredores do Stade de France mais de duas horas antes do jogo, com seus ingressos. Porém, acabaram impedidos de entrar devido a vinda de outros vários torcedores dos Reds e, principalmente, de vários locais a entrada inglesa. Nisso, enquanto a polícia francesa tratava os torcedores com uma truculência pouco vista na Europa, rolavam arrastões e invasões ao próprio estádios de locais e, é óbvio, de alguns torcedores do Liverpool.

Tudo começou errado com o próprio planejamento da polícia francesa. Uma curta e ótima reportagem da Sky Sports resumiu a sucessão de erros inacreditáveis que foi cometido pela organização como um todo. Os 20 mil torcedores do Liverpool que iam ao Stade de France não tinham um espaço suficiente para entrar de uma maneira fluída e ainda ficaram presos em um local onde haviam apenas duas catracas com pouquíssimo espaço para manuseio da multidão. Quando começaram as invasões de jovens locais a situação virou caótica e enquanto policiais jogavam gás de pimenta para conter os problemas, os movimentos naturais de uma multidão assustadas fizeram com que muitos se lembrassem de Hillsborough. Por muito pouco não aconteceu outro esmagamento em massa. 

A sucessão de erros inacreditáveis da organização ocorreu também na Fan Fest. Possuindo imensa maioria na sua festa, a torcida do Liverpool acabou vendo seu local ser invadido por alguns torcedores do Real Madrid que procuraram confusão e outras vez cenas de terror foram vividas pelos torcedores ingleses. Essas, porém, foram um poucos menos perigosas que as vividas no Stade de France, mas também rolaram por uma organização que não conseguiu nem garantir segurança a quem estava na cidade.


A UEFA e a cidade de Paris terão de aprender com os erros de 2022 para que não tenhamos que assistir, em pleno século 21, uma tragédia como Heysel ou Hillsborough acontecer de novo. Nenhum torcedor que vai assistir seu time numa final tem de ter medo de morrer no estádio. Paris, na verdade, tem o quadro mais preocupante, pois a capital francesa sediará a próxima Olímpiada e, por mais que o público olímpico seja, sob todos os aspectos, diferente do do futebol, é preciso que a cidade aprenda para que não ocorra outra tragédia.
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