Depois de tanto tempo, foi quase como um sonho pisar novamente na Vila Belmiro

Por Lucas Paes
Foto: Lucas Paes

Os torcedores voltaram as arquibancadas da Vila Belmiro

O dia 23 de março de 2020 teoricamente não era nada muito "especial". O Santos, ainda com Jesualdo Ferreira, enfrentava e vencia o Mirassol na Vila Belmiro pelo Paulistão daquele ano. Poucos sabiam, mas aquele duelo seria o último em muito tempo do Alvinegro Praiano jogando em seu estádio com a presença de seus torcedores. Desde então, uma pandemia levou milhões de vidas pelo mundo, 600 mil só no Brasil. Finalmente, no dia 10 de outubro de 2021, a Vila Belmiro voltou a receber a nação santista, num confronto direto contra o Grêmio. Pela Libertadores? Não, contra uma iminente queda a segunda divisão para algum dos dois.

Apenas 30 por cento da capacidade do estádio, ou seja, pouco mais de 4 mil ingressos, estavam liberados. porcentagem rapidamente esgotada pelo torcedor santista. A situação das duas equipes era crítica já antes da rodada começar, pois o Grêmio estava no Z4 e o Peixe ficava perigosamente próximo dele. No sábado, os resultados colocaram ambos dentro da zona de perigo e o duelo desta tarde na Vila Belmiro virou cara de decisão. Isso foi determinante no clima que estava o torcedor neste domingo.

Particularmente, eu cheguei a temer que jamais voltaria a pisar nessas arquibancadas que tanto me são agradáveis, como uma segunda casa. Em meio as milhares de mortes, ao atraso de vacina, a tragédia que foi toda a condução da pandemia do Brasil, um país que, como bate na tecla o competente cientista Átila Iamarino, não possui estratégia de combate a pandemia além da vacinação. Mas, graças ao óbvio avanço da vacinação no país que melhor vacina no mundo, pudemos finalmente voltar ao estádio. 


Inclusive, a organização da entrada dos torcedores era realmente elogiável. As tendas estavam bem operadas e faziam com rapidez a entrada do público, deixando bem claro  o que era necessário para adentrar ao estádio, ainda que o próprio Santos tenha falhado em esclarecer sobre o comprovante da compra do ingresso. O processo foi rápido e a sensação que passou observando foi que todo mundo entrou antes do apito inicial. Lembrando que eram exigidas duas doses de vacina ou uma dose e um teste para entrar. Inclusive, o Presidente da República foi barrado querendo assistir ao jogo, o que parecia muito mais uma cena armada para criticar o "Passaporte de Vacinação". 

A sagrada casa santista tinha no domingo um total clima de decisão. Torcedores, incentivados por promoções realizadas pelo Santos, entraram nas dependências do estádio bem antes do jogo. Antes, fora do estádio, cantoria, sinalizadores, fumaças, bandeiras. Dentro, as músicas já começaram a ser entoadas pelas organizadas mais de 40 minutos antes da bola rolar, como uma passagem de som de uma banda há muito sem tocar, brincadeira que este que vos escreve fez em conversa com um amigo que estava no jogo. O time foi coberto de apoio do início ao fim dos 90 minutos.

Não houve, por parte da torcida do Santos, qualquer hesitação quanto a postura adotada. Não havia espaço para xingamentos, para vaias, para nenhum tipo de manifestação que não fosse o incentivo ao time. Dentro de campo, se falta técnica e até sorte ao Alvinegro Praiano, sobrou dedicação, como sobrou a todos nós na arquibancada. As músicas eram entoadas pelos quatro cantos do estádio, como se as quatro mil pessoas presentes pudessem se fazer soar como 20 mil. E fizeram.


Os momentos finais do jogo são talvez os maiores símbolos do quão importante é essa simbiose entre torcedor e time e o quanto foi espetacular o vivido esta tarde na Vila. Aos 46 minutos, um chute horroroso de Marinho desvia em Wagner Palha e entra no gol, arrancando o grito por alguns segundos do torcedor, porém o gol acabou anulado inicialmente por impedimento. A partir daí, segue a espera pelo VAR, que durou pouco, já que das cativas partiu o grito de gol de alguém que percebera no replay da televisão que o gol era legal. A confirmação causa uma explosão que até parecia não existir mais. Torcedores se abraçavam, alguns ajoelhavam e choravam nas arquibancadas, enfim, loucura, psicopatia e caos, bem ao estilo brasileiro.

E então veio o apito final, com um irromper de felicidade parecido com um título. Depois de 11 jogos, o Santos volta a vencer quando recebe novamente seu torcedor no estádio, o que é simbólico do quão importante a relação entre os fatores torcida/estádio/time são no clube que é, em condições normais, o melhor mandante dos pontos corridos. Foram cenas muito bonitas que todos nós, santistas, sentimos saudades de viver novamente. A "volta para casa" veio com vitória, esperança e apoio, muito apoio a um time que precisa disso e correspondeu, se não jogando bonito, pelo menos deixando a vida em campo.

Encerro este artigo fazendo uma afirmação perigosa, porém muito clara, pelo menos para este que vos escreve. Tendo a sua torcida de volta no Alçapão, é muito difícil imaginar que o Santos, por mais limitado que seja, consiga ser rebaixado em 2021. Caberá ao torcedor repetir o clima desta tarde de domingo, dando o empurrão necessário para que o Alvinegro Praiano passe pelo pior momento de sua história ileso. 
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