Copa João Havelange 2000 - A final que quase não acabou

Por Lucas Paes
Foto: Guilherme Pinto/Agência O Globo

Queda do alambrado de São Januário que adiou a final da Copa João Havelange

A Copa João Havelange de 2000 foi um dos episódios mais curiosos, bizarros e interessantes, tudo isso ao mesmo tempo, do futebol brasileiro. Em meio a problemas de times pedindo pontos na justiça, a CBF acabou impedida pela justiça de organizar a competição e delegou a tarefa ao antigo Clube dos 13, que cuidou da organização de um campeonato que teve 116 times e quatro módulos, encerrando com chave de ouro um século que teve diversos torneios marcados pela desordem do futebol brasuca. Em 30 de dezembro daquele ano, num São Januário superlotado, se iniciaria o segundo jogo da final entre Vasco e o surpreendente São Caetano.

O Vasco na época era uma das grandes equipes do futebol brasileiro e quiçá inclusive mundial. O Cruzmaltino tinha em seu elenco nomes como Romário, Juninho Paulista, Juninho Pernambucano, Jorginho Paulista, Euller, enfim, uma verdadeira seleção. Do outro lado, o Azulão revelava nomes como Silvio Luiz, Serginho, Adãozinho, Somália e o craque do time, Adhemar. Aquele segundo jogo ocorria depois de um acirrado e disputado empate por 1 a 1 no Parque Antártica, onde o Azulão perdeu várias chances de gol.

Só que o jogo de São Januário acabou sequer terminando. Num São Januário superlotado, em meio a uma confusão após a substituição de Romário, o alambrado do estádio caiu e o jogo foi paralisado para atendimento aos feridos, que no final foram mais de 160. Posteriormente, o duelo acabou sendo cancelado por Anthony Garotinho. Eurico Miranda queria de qualquer forma que o jogo fosse reiniciado, mas a partida acabou adiada e iniciaram-se uma série de problemas, com contratos que venceriam no final daquele ano tendo de ser estendidos e jogadores tendo que voltar das férias mais cedo para jogar a decisão, que ficou para 2001, no Maracanã.

A verdade é que o jogo decisivo poderia e deveria ter sido jogado no maraca. Segundo matérias da época, Eurico Miranda preferiu mandar o jogo em São Januário, rejeitando a ideia do governo estadual de fazer a final no "maior do mundo". Um laudo posterior atestou que a cancha vascaína tinha capacidade real para apenas 27 mil pessoas, mas naquele dia 33 mil estiveram em suas dependências.

A final então acabou ocorrendo apenas em 18 de janeiro de 2001, num Maracanã esvaziado para "apenas" 30 mil pessoas. Naquele dia, Eurico Miranda peitou diretamente a Rede Globo colocando o logo do SBT na camisa do Vasco, uma ação motivada pela indignação do dirigente vascaíno ao modo como a tragédia do alambrado foi coberta pelo jornalismo global. Não houve nenhum pagamento do SBT ou acordo tentado por parte de Eurico, foi de fato uma provocação a detentora dos direitos de transmissão da final.


Dentro de campo, apesar do Azulão necessitar da vitória e buscar o ataque, quem abriu o placar foi o Vasco, com Juninho Pernambucano, aos 30 minutos do primeiro tempo. Sete minutos depois, o time do ABC Paulista até empatou, com Adãozinho, mas logo depois Jorginho Paulista botou os donos da casa na frente de novo. No segundo tempo, antes mesmo dos caetanistas pensarem em empatar o jogo e assim ficarem com a taça, Romário fez o terceiro gol, a oito minutos e derrubou de vez o ânimo dos visitantes, que não conseguiram reverter a situação: o título foi do Cruzmaltino. 

Onze anos depois, já com o clube de São Januário tendo passado por turbulências, um rebaixamento e mostrando, pelo menos naquele momento, uma possível volta aos dias de glória, a juíza Anna Eliza Duarte Diab Jorge, da 22ª Vara Cível do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, decidiu que o Vasco era inocente na queda do alambrado do seu estádio, sentenciando que a culpa era da briga entre dois torcedores que gerou a confusão toda. Inclusive, a sentença fala sobre a queda do alambrado ter salvado vidas, já que escoou a massa de pessoas. Entretanto, outras várias ações judiciais rodaram sobre o caso, relacionados a danos morais e materiais.
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