Em algum outro universo, em algum sonho, a 10 de Pelé também foi de Maradona

Por Lucas Paes
Foto: Arquivo/SFC

Maradona em visita a Vila Belmiro

Recentemente, o mundo do futebol perdeu um de seus maiores personagens, o maior jogador argentino de todos os tempos e uma das maiores figuras que a América Latina já teve o orgulho de ver nascer em suas terras, Diego Armando Maradona. O 10 que por duas vezes quase vestiu a 10 de Pelé no Santos, pelo menos aqui nesta dimensão nossa. Há quem acredite que os sonhos nos transportam para outras dimensões, mais uma vez, o mundo dos sonhos trará um texto sobre algo que quem sabe aconteceu em outro universo, em uma realidade paralela a nossa, onde quem sabe Diego continue peleando.

O cenário me era "estranho" naquele sonho. Estávamos eu e meu pai caminhando por um conhecido lugar, a Praça Charles Miller, porém, nitidamente os ônibus parados por ali eram antigos e as camisas do Santos, num festival de modelos de 1992, 1993, 1995 me intrigavam, pois nitidamente não havia nenhuma mais recente. Também não havia um celular a vista e nem no meu bolso. Se eu estava pensando corretamente, não teria sequer idade para estar num estádio naquele ano, quanto mais a caminho do estádio com uma cerveja na mão, porém, o mundo dos sonhos é diferente do nosso. 


Quando entramos no Pacaembu e vi a torcida do Botafogo ocupando o espaço visitante entendi na hora para onde o sonho havia me levado, aparentemente iria viver com meu pai naquele sonho a final do Brasileirão de 1995, que o Santos perdeu para o Botafogo. Enfim, sentei me na cadeira laranja esperando pelo jogo. Algum tempo depois, a introdução querida do Pacaembu ("O meu, o seu, o nosso") e começa o anúncio das escalações. O sistema de som passava pelos nomes que conhecia do time do Santos: Edinho, Narciso, Marcos Adriano, Robert, Giovanni, que não era o 10, curiosamente Jamelli e Camanducaia. No banco de reservas, de repente, anunciam a presença de Maradona. Um momento, Maradona? Olhei para meu pai intrigado e o comentário foi que ele havia se recuperado à tempo de uma lesão. O que Maradona estava fazendo no Santos? Desde quando ele jogava aqui? O sonho começava a ficar mais intrigante, no mínimo. 

Mas, no jogo, nada parecia muito diferente. Túlio fez o gol para o Botafogo. No intervalo, porém, quem veio na vaga de Robert foi Maradona e ali eu percebi que de fato, onde quer que o sonho tivesse me levado, Don Diego Armando Maradona era o camisa 10 do Santos. Um reserva que entrou no segundo tempo. Ficava a dúvida se nesse lugar o empate com sabor de derrota também viria naquela final. Assisti o jogo com uma antecipação digna de uma final normal e não de um sonho.


O gol de Camanducaia ainda foi anulado aos 34 minutos do segundo tempo. Só que diferente da final que eu conhecia, pouco tempo depois do Botafogo sair jogando, os santistas recuperaram a bola e a jogada se desenhou da seguinte forma: Carlinhos robou a bola no meio campo e acionou Maradona, que marcado por dois, se desvencilhou com uma linda cavadinha para Giovanni. O Messias simplesmente dominou e ajeitou para o argentino, que recebeu fintando o zagueiro botafoguense e simplesmente colocou a bola no ângulo de Wagner, que nem se mexeu. Um golaço que me fez explodir no sonho junto ao estádio. A partir daí, o ânimo dos cariocas arrefeceu e diante de um estádio que explodia em festa, ainda deu tempo de Giovanni sofrer um pênalti e marcar o terceiro aos 46 minutos. O título era do Santos.

Ao fim do jogo, tudo mais que vi foi um um avanço rápido de flashbacks. Maradona ainda jogou a Libertadores de 1996, onde foi responsável direto por apavorar a América do Sul, porém não conseguiu evitar que sucumbíssemos diante do Grêmio nas semifinais. Depois daquela competição, deixou a Vila Belmiro para voltar ao Boca, onde o plano era que se aposentasse. Dois anos depois, porém, nem mesmo Leão foi capaz de vetar a sua contratação e imagino que agradeceu, pois na sua segunda passagem, Don Diego foi de novo responsável por um título brasileiro, ao simplesmente acabar com o terceiro jogo da semifinal contra o Corinthians, vencido pelo Santos por 2 a 0 e ser responsável direto pela vitória na final contra o Cruzeiro, dando o passe para um gol de Viola. 


Não sei de números, não sei como aconteceram as coisas nesse possível universo paralelo para onde o sonho me teletransportou, mas escrevo aqui lamentando não só como um torcedor, mas como um entusiasta do futebol, que a 10 de Pelé no Santos nunca tenha vestido Maradona. Se existem outras realidades, outras dimensões, eu espero que esse sonho tenha se tornado realidade em algum deles, que em algum lugar nessa vasta imensidão, onde não houve uma pandemia, onde Don Diego venceu seus demônios, onde Pelé ainda está bem de saúde, Pelé e Maradona, como bons amigos que eram, estejam abraçados no camarote da Vila Belmiro, dando uma benção real e divina para os gols de Marinho.
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