A "morte" de um ídolo nem sempre é física

Por Lucas Paes
Foto: Ivan Storti/Santos FC

Robinho "voltou" para o Santos

Robinho era uma das maiores figuras da história do Santos Futebol Clube. Ídolo de uma geração, responsável direto pelo libertador título do Campeonato Brasileiro de 2002, destaque no título de 2004, um dos mentores do time incrível de 2010 e ainda campeão paulista em sua última volta em 2015. Porém, tudo isso cai por terra quando se vem evidência de uma condenação por estupro pautada pelos trechos de áudios divulgados pelo Globoesporte.com. Não há a menor condição moral da imagem do Santos continuar ser ligada a Robinho. As vezes um ídolo morre fisicamente, as vezes a morte vem por meios muito mais tristes, mesmo em vida. Pelo menos para este que vos escreve, Robinho, o ídolo, a figura história, a referência, morreu.

A volta de Robinho para o Santos neste ano de 2020, divulgada com o marketing de "The Last Pedal", traduzindo, a última pedalada, já veio cercada de problemas. Constava, querendo ou não contra o jogador uma condenação por estupro na justiça italiana. A postura prudente, porém, adotada por boa parte da torcida do Santos foi de aguardar maiores evidências de um processo ao qual não tínhamos muito conhecimento. Até a manhã desta sexta-feira, dia 16 de outubro, onde o Globoesporte soltou o conteúdo dos áudios envolvidos no processo. Ficou impossível então qualquer defesa da contratação de Robinho.


O conteúdo dos áudios é completamente perturbador e nojento. O teor da conversa entre o jogador e seus amigos trata de uma certeza de impunidade e de um modo de tratar a possível vítima que é repugnante, não a toa sendo o catalisador da condenação em primeira instância. Não cabe a nós julgar o mérito legal da questão, já que a pessoa Robson de Souza pode ainda vir a ser declarada inocente, porém, moralmente, é indefensável que o Santos enquanto uma instituição defensora de valores importantes e possuidora de tantos torcedores, compactue com a continuação da contratação de uma pessoa envolvida em um possível crime de tamanho peso. A imagem do Alvinegro Praiano foi arranhada de maneira irreparável neste dia de hoje.

Com os fatos em evidência e com a cobrança corretíssima da mídia em relação ao posicionamento dos patrocinadores do Santos, a equipe fica cada vez mais próxima de perder todos os seus patrocinadores se optar pela permanência do camisa 7. Até a Umbro, responsável pela confecção dos uniformes do Alvinegro Praiano, se posicionou com relação a rompimento de patrocínio condicionado a indefensável escolha de manter Robinho no elenco. A demora do Santos em se posicionar foi extremamente lamentável, ainda que a decisão seja, por linhas tortas, a correta, numa nota muito curta e que deixou muito a desejar.


Colocado os fatos, ficará agora o desabafo de um torcedor fanático do clube, sócio, que viveu hoje seu dia mais triste como um apoiador de um dos maiores clubes do mundo. O dia 16 de outubro de 2020 ficará marcado como o mais triste da história do clube, quando o silêncio foi ensurdecedor diante da possível decisão de manter em seu elenco um jogador que responde um processo por estupro sob o qual já ocorreu uma condenação em primeira instância. A situação se torna mais triste ainda quando se trata de um dos maiores ídolos da nossa história, do jogador que fez renascer a esperança no torcedor santista, do "Mestre Pedalada" a quem essa torcida tanto amou. Robinho não tem a menor condição de envergar o sagrado manto santista.

A sensação, para toda uma geração que tem esse sujeito como referência, é da morte de um ídolo. A morte de uma idealização, da imagem do que é o Santos: o futebol moleque, alegre, ofensivo e divertido, o time que mais marcou gols na história do futebol, o time que tem entre seus maiores nomes jogadores negros, o time que é pioneiro no futebol feminino, o time que se marcou nos últimos tempos pelo apoio a minorias, o time que era motivo de um "Orgulho que nem todos podem ter" e agora testemunha uma vergonha que ninguém queria ter. A sensação de um vazio equivalente a uma morte, cada linha de uma matéria que rasgou o coração e acabou com o dia de quem realmente ama esse clube.

Se não é por toda a questão moral envolvida, já que por lei de fato Robinho ainda terá direito a se provar inocente, seja então pelo menos pelo respeito a marca e para não destruir de vez a pouca esperança que o ano de 2020 trazia. Qualquer decisão que não fosse a rescisão imediata com Robinho seria errada e traria consequências catastróficas. Nenhuma vergonha, nem um rebaixamento, nem uma goleada para o rival, nem a falência, equivalerá a defender o indefensável. 


A morte dói, machuca, te faz gritar ao mesmo tempo em que dá uma sensação de vazio, mas vai passar torcedor santista. Isso vai passar, porque o clube é muito maior que quem o dirige, é muito maior que quem joga e é eterno. Essa mancha tem que ser contida antes que se propague de maneira incontrolável, porém, não deve ser apagada, para que nunca mais se esqueça e nunca mais se repita. Servirá de aprendizado, um duro, porém necessário aprendizado.

Por fim, moralmente, o ídolo Robinho morreu, acabou, se foi. A lei permitirá ao jogador se defender, ainda há recursos e existe o principio da presunção de inocência na constituição italiana, assim como na nossa, mas moralmente, não há mais defesas. A atitude de Robinho não combina com um ídolo, não combina com uma figura a ser admirada e não combina, acima de tudo, com a sagrada camisa do Santos. Essa história, de capítulos tão bonitos, acabou hoje. Pois nem mesmo o mais bonito gol pode estar acima da decência.

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