Com Júnior sendo o maestro, o Flamengo campeão brasileiro de 1992

Com informações do Flamengo
Foto: Agência O Globo

Júnior, já veterano, foi o grande líder do Flamengo campeão em 1992

O Flamengo passava por um período diferente. (Quase) Toda a geração inesquecível da década de 80 já havia parado. Uma nova garotada surgia com muito talento e a missão de manter o Mais Querido no topo. Nomes como Djalminha, Paulo Nunes, Marcelinho, Junior Baiano, Piá e Nélio eram a esperança da torcida nessa nova era que se desenhava. Talentosos, sem dúvida. Alguns já despontavam com talento acima da média. Mas eram garotos. E para ajudar nesta missão, Carlinhos pediu auxílio de um pessoal mais rodado. 

O goleiro Gilmar Rinaldi, experiente e campeão com São Paulo e Internacional. Gottardo, um dos melhores zagueiros do Brasil, bicampeão estadual com o Botafogo. E dois caras que conheciam muito bem o Flamengo: Zinho e Gaúcho. 

Zinho já era um fenômeno. Cria da Gávea, campeão brasileiro em 1987, da Copa do Brasil em 1990 e estadual em 1991, já colecionava faixas desde cedo. E Gaúcho, que saiu do Fla para conhecer o mundo em 1984, voltou para casa e foi decisivo na conquista. 

Já era um time forte, mas a peça fundamental para dar a liga ao futuro campeão veio da equipe que conquistou o mundo em 81. Era ele: Leovegildo Lins da Gama Júnior, ou só Junior. "Só" seria blasfêmia. Júnior foi absolutamente a alma e o coração daquele Flamengo em 92. Aos 38 anos, ele sabia o que representava para aquela geração e para a Nação. Último remanescente do time campeão de tudo da década anterior. Era o líder de todos e o representante de Carlinhos dentro de campo.

A campanha - O Brasil tinha os olhos voltados para Botafogo, Vasco e São Paulo. A campanha rubro-negra na primeira fase não foi das melhores, e o time esteve seriamente ameaçado de não se classificar para a etapa seguinte. A derrota para o Sport, em casa, jogou o time para a 12ª posição e foi considerada a pá de cal sobre as pretensões da equipe, e somente uma arrancada sensacional seria capaz de salvar o campeonato. 

E ela veio - Primeiro o 4 a 1 sobre o Paysandu. Depois um empate contra a Portuguesa, fora, mas a tabela ainda ajudava. As vitórias ainda valiam dois pontos e estava tudo muito embolado. Os triunfos contra Goiás e Internacional, aliados a péssimos resultados de rivais diretos, foram a salvação e o time conseguiu a classificação em quarto lugar. 

Deixou chegar - O Flamengo chegou. Chegou em um grupo mortal. Dividiam a sala o Vasco, líder absoluto da primeira fase, o São Paulo, atual campeão nacional e que naquele ano levaria seu primeiro mundial, e o sempre perigoso Santos. Vasco e São Paulo tinham o favoritismo, mas o Flamengo tinha uma arma bastante conhecida. O Maracanã.


Não podia ser sem drama. O São Paulo venceu o duelo direto contra o Flamengo, na penúltima rodada, se tornando líder do grupo. O Vasco, favorito, desabava com seguidos empates. E tudo ficou para a última partida. 

Flamengo x Santos, Vasco x São Paulo. O Flamengo tinha que vencer o Santos e torcer para o arquirrival Vasco segurar o São Paulo. Possível? Sim. Aos gritos de "Entrega" da torcida cruzmaltina em São Januário, o Vasco obteve sua única vitória no quadrangular. Resultado perfeito para o Flamengo, que ao mesmo tempo ia despachando o Santos por 3 a 1 no Maracanã. Classificação garantida, caminho aberto na final. 

45 minutos e depois só o protocolo - Sabe aquela história do Mundial de 1981? O Flamengo contra um time favorito, aquela coisa e tal e de repente 3 a 0 no primeiro tempo e fatura liquidada? Foi assim que o Mais Querido entrou em campo no dia 12 de julho de 92. 

Logo nos primeiros minutos, o cartão de visitas. Junior recebeu na intermediária e percebeu Renato Gaúcho vindo pro carrinho. Driblou pra esquerda. O atacante, não satisfeito, tentou de novo. Driblou para a direita. Naquele momento, naquele lance específico, o Brasil inteiro já passou a ter certeza sobre quem seria o campeão daquele ano. 

E, com 15 minutos, veio a primeira queda. Piá invadiu a área pela esquerda e tocou para Gaúcho na marca do pênalti. O centroavante fez jogo de corpo, a bola passou e encontrou Junior que, de carrinho, inaugurou o placar. O Botafogo abriu contagem e se levantou. Para quê? Fabinho ganhou dividida na raça e achou Nélio livre. O camisa 10 tocou entre as pernas do goleiro Ricardo Cruz e ampliou. Novamente o Botafogo beijava a lona, mas insistia em se levantar. Sua torcida já jogava toalhas brancas no campo, mas ainda havia tempo para outro golpe. E ele veio quatro minutos depois. Piá, de novo, fez cruzamento primoroso para Gaúcho marcar o terceiro. Nocaute técnico. Três quedas no primeiro round da batalha.


Precisava jogar o segundo jogo? Precisava, pelo regulamento e para deleite da torcida. Quem não foi no primeiro teria a chance de ver o segundo, uma vez que a torcida do Botafogo foi em pequeno número: cerca de mil pessoas. Então, uma semana depois, dia 19 de julho, o Maracanã estava lotado. Mas lotado mesmo, como era um Maraca lotado numa tarde de domingo. Cento e vinte e duas mil pessoas se amontoaram para ver o título chegar. 

Antes da bola rolar, a tragédia. Uma parte da grade da arquibancada cedeu e provocou a queda de dezenas de pessoas diretamente nas cadeiras. Três vieram a falecer posteriormente. Ainda sem ter noção total da tragédia, os times começaram a decisão. 

O Botafogo fingia ter esperança. Até tentava, pela honra. Junior, em cobrança de falta magistral no final do primeiro tempo, ampliou a vantagem para quatro. Foi seu último gol em uma final pelo Flamengo. Sua última final. Seu último título. A torcida já comemorava o título inevitável, quando Júlio César marcou mais um no início do segundo tempo. Não havia mais o que o Botafogo pudesse fazer e os dois gols de empate foram marcados em clima de festa. Ninguém se importou. O placar agregado de 5 a 2 mostrou o tamanho da superioridade e supremacia de um time que disputava – e vencia – mais uma decisão de Campeonato Brasileiro.
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