Maracaná – Um documentário uruguaio sobre a Copa de 1950

Por Lucas Paes


Pensando sempre no Maracanazzo como a tragédia que ele foi para nós brasileiros, esquecemos o quão heróico o feito da Seleção Uruguaia foi para o povo Charrua. O último título mundial da Celeste Olímpica é amplamente comentado na cultura daquele país até hoje virando motivos de diversos filmes e documenários.

Maracaná foi lançado em 2014. O filme, dirigido por Sebastián Vederik e Andrés Varela, foi lançado em uma sessão feita justamente no Estádio Centenário, palco do primeiro título celeste, em 1930. O filme é baseado no livro “Maracaná: La história secreta” de Atillo Garrido. Segundo a sinopse, o povo brasileiro queria de tudo para ganhar o título, mas o capitão uruguaio acaba transformando a história em tragédia.

Em ano de eleições presidenciais no Brasil, a maioria dos candidatos tenta associar sua campanha ao mérito desportivo da pátria, tática não muito incomum na política. Barbosa, que viraria vilão para muitas próximas gerações de brasileiros, é retratado na história como um dos mais populares. Os jogadores brasileiros carregavam consigo camisas que diziam “Brasil Campeão.”

Obdulio Varela recebendo a Taça

Do outro lado, Obdúlio Varela, que faria aniversário hoje, é o capitão do time uruguaio, buscando unir jogadores de diferentes clubes e personalidades dentro de um objetivo. No ano anterior, o capitão havia sido comandante de uma greve dos jogadores, construindo a partir dalí a sua liderança diante deles. No grupo, o jovem Gigghia, que viraria pesadelo de pessoas presentes naquele jogo durantes muitos anos a seguir.

Trazendo em sua maioria imagens de arquivo, muita delas inéditas, o filme conta a história não só mostrando a perspectiva dos vencedores, mas também com a ótica brasileira da tragédia. Mixando as imagens com entrevistas dos que protagonizaram aquele momento, para bem ou para mal. 

Além de imagens dos jogos, temos imagens dos times nas concentrações, com a clara diferença do já badalado time brasileiro e o tranquilo time uruguaio, considerado fora de forma e sem grandes chances de fazer grandes coisas naquele mundial. Como sabemos, no fim das contas o time, abandonado até pelos cartolas, deu a volta por cima.

Sob a ótica uruguaia, o título foi como uma rendeção. Num momento complicadissimo do futebol local, vivendo sob greves de jogadores. Porém, da mesma forma que aquele dia é um fantasma para nós brasileiros, ele também assombra os uruguaios, que nunca mais foram campeões do mundo, tendo com certeza sua maior chance em 2010, 60 anos depois, num time que também surpreendeu o mundo.

Trailer do documentário

Apesar da apelação para clichês, como a tragédia que a derrota foi para o Brasil e uma impressão de que a dor afetou toda a nação, um dos méritos do filme passa pelo lado uruguaio dos acontecimentos: com os depoimentos dos vencedores, conhecemos um pouco mais da forte personalidade do capitão Varela, ou Sr. Obdúlio, líder de personalidade forte que disse ainda na boca dos vestiários na entrada em campo que os uruguaios sairiam com o título.

O Maracanazzo será para sempre um episódio que marcará os povos brasileiros e uruguaio. Mas a ferida aberta pela derrota foi parcialmente fechada, ou melhor, acabou sendo superada pela histórica goleada alemã em 2014. Para os Uruguaios, o último titulo mundial, mas não o último suspiro de uma camisa de um gigante há muito adormecido, que acordou de forma quase devastadora em 2010. Depois de 1950, nunca mais um Brasil x Uruguai será um simples jogo de futebol, afinal, alguns fantasmas jamais serão exorcizados, para bem e para mal.
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