A Seleção Camaronesa na Copa do Mundo de 1990

Por Lucas Paes 

Camaroneses comemorando gol de Roger Milla: a grande sensação da Copa de 1990

Nos tempos atuais é cada vez mais comum seleções africanas fazerem boas participações em Copas. Em 2018, por exemplo, espera-se muito do Egito, que tem Mohammed Salah em estado de graça. Na última Copa, no Brasil, a Argélia não ficou muito distante de impedir que o 7 a 1 acontecesse, quase eliminado a Alemanha nas oitavas. Gana ficou a uma mão e uma trave da semifinal em 2010. Mas tudo começou com Camarões, em 1990, na Itália. 

A história de 1990 começa nos anos anteriores. Em 1982, na primeira participação dos Leões Indomáveis, o apelido foi ganho devido a boa campanha, com três empates em um grupo que tinha até a Itália, futura campeã. Comandados pelo francês Claude Le Roy, os camaroneses vinham de ótimas campanhas nas Copas das Nações Africanas, até vencerem a competição, em 1988 depois de dois vices seguidos. Neste time, se destacavam jogadores como Kundé, Makanaky, Mfedé e a lenda Roger Milla.

Oman Biyik sobre mais que a zaga argentina para marcar o gol na estreia

Nas eliminatórias, Le Roy deixou o cargo e foi substituído pelo na época novato Nepomniachi. O soviético levou Camarões até a fase final das eliminatórias, desclassificando no caminho a sempre forte Nigéria. Depois, os Leões tiraram a Tunísia para chegar a Copa de 1990. Teoricamente, Milla não jogaria a competição, já que o ídolo havia se aposentado após o título da Copa das Nações. 

Mas numa situação que envolvia brigas no elenco camaronês e até envolvimento do presidente do país, Milla decidiu voltar da aposentadoria. Porém, mesmo com a situação melhorando, nem o mais otimista poderia imaginar o tamanho do que Camarões faria naquela Copa do Mundo, onde seriam a alegria num mundial marcado pela monotonia.

Contra a Romênia, a segunda vitória

Em um grupo com a Argentina, então atual campeã, a Romênia de Hagi e União Soviética, a estreia camaronesa e abertura da Copa do Mundo de 1990 foi no histórico San Siro, diante da Albiceleste. Fazendo uma ótima partida e conseguindo jogar de igual para igual com os argentinos, os africanos marcaram o gol da incrível vitória aos 22’, com Biyik de cabeça, numa falha feia de Pumpido. Sem conseguir reagir, os argentinos acabaram derrotados por uma Seleção Camaronesa. 

Na segunda rodada, jogando no San Nicola, em Bari, os Leões Indomáveis continuaram sua saga na Itália. Diante da Romênia de Hagi, os camaroneses mostraram ainda mais qualidade e ousadia e também jogaram de igual para igual. Foi só no segundo tempo, porém, que a segunda vitória veio, após a entrada do veterano Milla. Fatal, o atacante entrou e aos 31 aproveitou a bobeira do defensor romeno e abriu o placar, fazendo sua característica comemoração dançando na bandeira de escanteio. O segundo gol veio em jogada ensaiada em uma cobrança de falta, onde a bola sobrou de novo para Milla, que frente a frente com o goleiro, não perdoou. A Romênia fez com Balint, já aos 43 do segundo tempo.

Já classificados, camaroneses foram goleados pela União Soviética

A última rodada da fase de grupos deu a impressão que o “gás” camaronês havia acabado, já que os africanos levaram 4 a 0 dos Soviéticos, apesar de estarem classificados e, claramente, tendo tirado o pé. As oitavas de final reservaram um confronto entre duas sensações daquela Copa, os Leões Indomáveis enfrentaram os colombianos, de Higuita, Valderrama e cia, no que era considerado o melhor time da história cafetera.

O San Paolo testemunhou a história. Sem gols no tempo normal, o duelo acabou decidido na prorrogação, mais uma vez pelos pés de Milla. Primeiro, ele recebeu passe de Biyik, fintou o zagueiro colombiano e finalizou com força sem chances para Higuita, no primeiro minuto do segundo tempo do tempo extra.

Roger Milla aproveitou falha de Higuita nas oitavas

O segundo veio em falha do 'maluco' goleiro colombiano, que já nos anos 1990 era um exibicionista e gostava muito de jogar com a bola nos pés. Em uma tentativa de sair jogando com a zaga, ele recebeu um passe ruim do defensor e acabou tendo a bola roubada por Milla, que jogou a redonda para o gol vazio e ampliou. O gol de Redín, em bela jogada ofensiva colombiana, pouco adiantou. 

As quartas de final eram mais do que qualquer um poderia imaginar para a Seleção Camaronesa, mas os Leões Indomáveis não ficaram com medo dos ingleses, naquele que seria, talvez, o melhor jogo de toda aquele mundial. O San Paolo viu um jogo aberto e ofensivo, diferente da tônica daquele torneio, marcado até hoje como a “pior Copa de todos os tempos” para muitos.

Contra a Inglaterra, chegaram a estar ganhando o jogo

A Inglaterra pulou na frente com Platt, de cabeça, aos 25’. Milla entrou no intervalo e uma jogada sua em velocidade gerou um pênalti cometido por Gascoine e, aos 15’ da etapa final, Kundé empatou. Pouco tempo depois, Ekeké empatou após passe espetacular de Milla e bonita finalização. O sonho das semifinais estava mais vivo que nunca. 

Ousado, o time camaronês continuou em cima, porém, aos 38’ do segundo tempo, um pênalti besta castigou os africanos e o lendário Lineker deixou tudo igual, levando o jogo para a prorrogação. No tempo extra, em outra cobrança de pênalti, Lineker fechou o marcador e mandou a sensação do mundial para a casa.

Mesmo perdendo, camaroneses saudaram o público após as quartas

Porém, Roger Milla e cia. jamais serão esquecidos. Considerados por muitos como o melhor time da história do futebol africano em Copas do Mundo, a Seleção Camaronesa de 1990 é sempre lembrada por trazer alegria e ofensividade a um mundial marcado pela chatice. Muitas vezes, os Leões Indomáveis são mais lembrados que os argentinos, finalistas do mundial e que outros bons times da época, sendo tão históricos para aquele mundial quanto a Alemanha de Brehme e Matthäus, que levantou a taça na história. 

A cada mundial sempre aguardamos quem poderá repetir ou até melhorar a marca camaronesa. Desde 1990, apenas o Senegal, em 2002, e Gana, em 2010, chegaram até as quartas de final, com os ganeses ficando muito próximos das semifinais. Esse ano, senegaleses e egípcios chegam gabaritados por Salah e Mané, respectivamente, destaques do Liverpool, sensação do futebol europeu na atual temporada. Os nigerianos sempre estão no grupo dos que podem surpreender e Marrocos e Tunísia correm por fora. Será que alguém repetirá o feito camaronês?
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