Ponte Preta: o primeiro time do Brasil a aceitar afrodescendentes

Miguel "Migué" do Carmo, o primeiro jogador negro do futebol brasileiro

O futebol, em seu início, era um esporte de elite. Tanto na Inglaterra, onde o esporte nasceu, quanto no Brasil ou na maioria dos países que já conhecia a modalidade, ainda no final do século XIX. Charles Miller, só para citar um exemplo, era de uma família abastada, tanto que fez seus estudos na Europa e lá conheceu o futebol. Os primeiros a marcarem gols por aqui também vinham de famílias ricas.

Muitos clubes nascidos das colônias de países europeus no Brasil não aceitavam sócios e jogadores nascidos ou descendentes de outras nacionalidades. As agremiações, as vindas de colônias e os de elite não aceitavam também afrodescendentes, pois o racismo, na época, ainda era muito forte. Vivia-se um período recente da Lei Áurea e muitos se negavam a conviver com os afrodescendentes. É inaceitável, claro, mas, infelizmente, era o que acontecia na época.

No início do século XX, quando os campeonatos apareceram, alguns clubes começaram a aceitar os negros. O Bangu tenta trazer para si a marca de ser o primeiro clube a aceitar afrodescendentes em seus quadros de atleta, já que em 1905 Francisco Carregal foi escalado em um jogo. Mas o primeiro jogador negro do Brasil foi da Ponte Preta: Miguel “Migué” do Carmo.

Entre os fundadores da Ponte existiam negros e mulatos, como Benedito Aranha, por exemplo, que fez parte da primeira diretoria alvinegra. Em fotos dos primeiros times do clube campineiro, há a presença de mais negros, ainda não identificados por pesquisadores. Migué do Carmo foi o primeiro, já que tornou-se jogador titular do primeiro elenco pontepretano, ainda no ano da fundação, em 1900, cinco anos antes de Francisco Carregal no Bangu, por exemplo.

Miguel do Carmo, nascido em Jundiaí no dia 10 de abril de 1885, segundo fiscal de linha da Companhia Paulista de Estradas de Ferro em Campinas no fim do século 19. Seria só mais um dos que se empolgaram com o futebol, esporte que havia chegado recentemente ao país, não fosse um detalhe que, para a época, era bem mais que um detalhe: a cor de sua pele.

Negro, nascido três anos antes da abolição da escravatura no país, Miguel do Carmo se tornou o primeiro descendente de africanos a jogar futebol por um clube brasileiro quando ocupou sua posição de "center-half" nas partidas iniciais da história da Ponte Preta, logo após a fundação da equipe em 1900.

A situação era impensável no fim daquele século e começo do próximo. Os times que praticavam o futebol no Brasil eram de clubes da elite branca. Alguns deles tinham regras que proibiam explicitamente a presença de negros em seus quadros.

Time da Ponte Preta no início contando com alguns afrodescendentes


Migué jogou pela Ponte Preta até 1904, quando foi transferido pela Companhia Paulista para Jundiaí. Morreu com 47 anos, em 1932, depois de passar por uma cirurgia no estômago. Além disso, porém, pouco se sabe a respeito dele.

A Ponte Preta, inclusive, já requisitou junto à Fifa o reconhecimento internacional por ter sido o primeiro time de futebol do mundo a aplicar o conceito de democracia racial. Mais ainda, a Ponte abraçou esta democracia em suas mais profundas raízes, a ponto de ter transformado preconceito em honra.

A torcida do clube sempre foi animada e acompanhava o time em todos os jogos do interior do Estado de São Paulo. Por ter na torcida uma base popular e operária, e por ter muitos negros tanto em campo quanto fora dele torcendo pelo sucesso do time, muitas vezes o time era recebido nos estádios adversários de maneira hostil.

Em uma época em que o conceito de racismo mal era conhecido, os rivais falavam que a torcida era formada por “macacos”, que o time era uma “macacada”. Em vez de brigar, a torcida transformou hostilidade em bom-humor e assumiu o apelido: a Ponte tem orgulho desde sempre de ser a Macaca, todos os seus torcedores amam a Macaquinha e fazem questão de ser os macacos do alambrado.
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