Com informações do Memórias do Esporte
Foto: Arquivo
Pelé, de cabeça, completando para o gol em um dos lances mais geniais da história do futebol
No dia 2 de agosto de 1959, o Rei Pelé marcava aquele que ele mesmo considera como sendo o gol mais bonito de sua carreira. Foi na vitória do Peixe pelo placar de 4 a 0 diante do Juventus, na Rua Javari, em partida válida pelo Campeonato Paulista, que teve 3 gols do Rei e um de Dorval. O Santos jogou com Manga; Mourão e Pavão; Formiga, Ramiro e Zito; Dorval, Jair Rosa Pinto, Coutinho, Pelé e Pepe. O técnico era Luiz Alonso Perez, o Lula.
Já eram transcorridos 36 minutos da etapa final, o Santos, que já vencia por 3 a 0, estava atacando para o gol dos fundos (aquele situado ao lado da Creche Marina Crespi) quando Pelé recebe a bola da ponta direita passada por Dorval. Na entrada da área ele se livra da marcação de Julinho jogando a bola sobre ele e corre para pegá-la mais a frente, fazendo uma jogada que ficou conhecida como “chapéu”. Pelé prossegue com ela, em seguida vem Homero a quem dá outro chapéu e segue com a pelota na direção de Clóvis a quem também dá outro chapéu, até ficar frente à frente com o goleiro Mão de Onça que também leva um chapéu e só tem tempo de olhar pra trás e ver Pelé com absoluta tranquilidade, esperar a descida da bola para com uma cabeçada, segura e bem calculada, enviá-la ao fundo das redes. Foi de tal forma sensacional o gol, que os jogadores do Juventus foram cumprimentar o atacante santista.
Em seguida vieram os aplausos da torcida juventina, porque todos perceberam que algo extraordinário havia acontecido. Era um gol fora do comum, uma verdadeira obra de arte que nunca mais se repetiria. Segundo a própria avaliação de Pelé, este foi o gol mais bonito de toda sua carreira. Foi uma sequência de quatro chapéus sem deixar a bola cair. O goleiro foi o último a ser chapelado. Pelé não esquece a cena em que logo após marcar o gol, partiu para cima da torcida do Juventus dando soco no ar e xingando os caras dizendo “vaiem agora seus f.d.p.” E assim nasceu o famoso “soco no ar”, uma marca registrada de Pelé nas comemorações de seus gols.
O fato teve um lado até engraçado. Tinha chovido bastante de manhã e havia uma poça d’água na pequena área. O goleiro Mão de Onça pegou só barro. Ele ficou com a cara sobre a lama. E a torcida?, pensam que fizeram algum quebra quebra como hoje fazem, não, o estádio inteiro, amigos e inimigos de pé, aplaudiram e gritaram o nome de Pelé por quase 10 minutos.
Na época o Juventus tinha um grande time e fazia um excelente campeonato. Tinha jogadores como Lima, que anos depois foi convidado por Zito para jogar no Santos e lá conquistou inúmeros títulos. Homero, que em 1954 havia sagrado campeão do IV Centenário pelo Corinthians, onde até hoje é lembrado com muito carinho pela torcida corintiana. Cássio e Lanzoninho também foram jogadores que defenderam as cores do alvinegro de Parque São Jorge na década de 60, Rodrigues que foi ídolo no Palmeiras pelos títulos que por lá conquistou, inclusive o da Copa Rio de 1951, onde ele teve uma participação muito especial. E foi com este time forte e guerreiro que o Juventus vendeu cara aquela derrota por 4 a 0, naquela tarde de 2 de agosto de 1959.
De fato, em toda sua gloriosa carreira de 1.281 gols, Pelé jamais voltaria a repetir jogada tão brilhante e este gol ficou na lembrança daqueles que o viram como o mais belo da história de todo o futebol. Mas as imagens se perderam no tempo e com base na lembrança dos torcedores presentes na Rua Javari, o gol pôde ser montado em computação gráfica para fazer parte do documentário e do filme “Pelé Eterno”.
Ainda faltaram detalhes para que a jogada ficasse completa no filme, “o posicionamento de alguns jogadores envolvidos não foi exatamente o mesmo mostrado no filme, mas o importante foi restituir a cena que culmina no mais belo gol de todos os tempos. Para homenagear o Atleta do Século, em 2006 o Juventus inaugurou um busto de Pelé, logo na entrada do Estádio da Rua Javari. Pelé foi convidado para a cerimônia. Chegou com uma hora de atraso, mas compareceu e a Moóca viu de novo um grande público lotando seu modesto estádio para ver o Rei. Foi um outro acontecimento que ficou na história do humilde Clube Atlético Juventus. Aquele que era para ser mais um jogo entre Santos e Juventus, acabou se tornando um jogo histórico. Felizes aqueles que puderam estar no acanhado estádio do Juventus naquela tarde de domingo, pois puderam presenciar um fato raro, algo que só pode ser um presente de Deus para nós, pobres e amantes do futebol.
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