A inauguração do Beira Rio, a casa do Internacional

Com informações do SC Internacional
Foto: arquivo SC Internacional

O corte da fita inaugural do gigante da Beira Rio

Foi em um domingo de páscoa. No dia 6 de abril de 1969, o Beira-Rio era inaugurado. À época, o mais bonito e luxuoso estádio do Brasil. Naquela manhã, todos os pensamentos na capital dos gaúchos convergiam para o Gigante, enquanto a cidade, literalmente, se pintava de vermelho. De todas as formas, fosse com bandeiras ou retalhos de tecidos vermelhos, pelos carros ou pedestres.

A direção do Clube pediu aos colorados que estourassem foguetes durante o amanhecer, em iniciativa que ficou conhecida como “Alvorada Colorada” ou “Despertar Vermelho”. Previstos para às 7 horas, os primeiros espocos puderam ser ouvidos ainda antes das 6 horas, tamanha a ansiedade da torcida. Também pudera, já eram transcorridos 13 anos de espera desde a aprovação do projeto da nova casa alvirrubra. Lindo de se ver, o espetáculo compensou cada segundo desde 1956 transcorrido.

“Parecia que havia uma cerração em Porto Alegre, a coisa mais bonita que vi na minha vida. Foi incrível, algo que nunca mais acontecerá no mundo”, descreveu Eraldo Herrmann, integrante da comissão de obras e presidente no primeiro título brasileiro, em 1975.

Uma multidão de aproximadamente 100 mil pessoas foi ao estádio assistir ao festival de apresentações, público jamais visto em estádio algum do Rio Grande do Sul. No mesmo lugar em que celebrara o lançamento da pedra fundamental em 1963, o Bispo Edmundo Kunz benzeu o Estádio. No gramado, por volta das 13h30, a Banda Militar do 18º Regimento de Infantaria de São Leopoldo, acompanhando o então o Governador Walter Peracchi de Barcelos, executou o hino nacional.

Na sequência, as autoridades acompanharam o engenheiro Ruy Tedesco, presidente da comissão de obras, até o centro do campo, onde, cercado por seus companheiros, cortou a simbólica fita de inauguração do estádio. Ali, naquele momento tão aguardado, era oficialmente concretizado um sonho que, no seu princípio, mais dez anos antes, soara quase impossível.

Às 14h, surgiram os componentes da Banda Marcial do Corpo de Fuzileiros Navais, ostentando vistosos uniformes vermelhos. Ao mesmo tempo, o placar eletrônico do Gigante era ligado, saudando a torcida que já lotava o Gigante. A Banda realizou suas evoluções até que, em colunas, fizeram surgir a frase “Parabéns Colorado”.

Ainda no evento houve uma corrida de mini-fórmulas Casari, espécie de kart, que movimentou a pista atlética do Beira-Rio. O páreo, inclusive, foi o primeira das três corridas realizada em Porto Alegre. Pilotados por garotos de 8 a 14 anos, a atração fez o público vibrar, em uma prévia de rapidez no estádio que posteriormente presenciaria o arranque e velocidade de jogadores como Valdomiro, Lula, Fabiano, Taison e Nilmar.

Conforme se aproximava o horário do apito inicial, saltava aos olhos dos presentes o novo gramado, inédito no Brasil por envolver não o assentamento, mas sim plantio de mudas. Além disso, a utilização do tipo de grama “Bermuda Green” foi um marco para o futebol daquele tempo. O relvado, vale destacar, fora plantado com grande antecedência no Country Club de Porto Alegre.

Um tapete, registre-se, à altura do adversário da data. Bicampeão europeu e cinco vezes finalista de Champions na década, atual vencedor do torneio português, time que contava com um dos maiores jogadores de todos os tempos – Eusébio -, o Benfica enfrentou o Clube do Povo na partida de inauguração do Beira-Rio. Embate duro, ainda mais para o jovem time colorado, recheado de jogadores oriundos do Celeiro de Ases. Apesar das dificuldades, no entanto, o Inter tratou de mostrar quem mandava no Gigante. Afinal de contas, o Colorado jamais se permitiria passar pelo vexame de ser derrotado na partida inaugural do seu próprio estádio.


O Inter tomou a iniciativa, empurrado pela massa ensandecida. Empolgado, aos 24 minutos Valdomiro se lançou pela ponta direita e cruzou. Gilson Porto, na esquerda da área do Benfica, emendou de primeira de volta para a confusão. Ali estava Claudiomiro, com apenas 19 anos, bem posicionado entre os zagueiros para desferir uma cabeçada certeira. O Clube do Povo abria 1 a 0, e o Gigante pulsava!

No segundo tempo, Eusébio empatou aos 23min, levando proveito de equívoco da arbitragem, que validou cobrança de falta previamente orientada em dois toques, mas que fora convertida em apenas um. O ídolo lusitano mal pôde comemorar, contudo, pois menos de cinco minutos depois Gilson Porto, também em lance de bola parada, bateu o goleiro José Henrique de forma magistral, dando números finais à partida. Ainda recém-nascido, o Beira-Rio já surgia mostrando que ocuparia lugar de protagonista na história do futebol brasileiro.
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