A melancólica "última dança" de Messi e Cristiano Ronaldo

Por Lucas Paes 
Foto: Paul Ellis/AFP

Messi e Cristiano Ronaldo foram a representação de uma era no futebol

O futebol mundial é marcado por ciclos e por rivalidades. O esporte bretão é um jogo de conflitos, confrontos, clássicos, disputa, é um jogo que costuma botar em lados diferentes histórias cativantes. Palmeiras e Corinthians, Real Madrid e Barcelona, Maradona e Pelé, Brasil e Argentina. Os confrontos são a tônica do futebol e a década de 2020 se inicia com a proximidade do fim do confronto que marcou os anos 2000 e 2010: a eterna dicotomia entre os gigantes, os craques, os colossais Messi e Cristiano Ronaldo, que podem ter feito uma melancólica última dança nesta quarta-feira, num já triste 8 de dezembro.

Messi e Cristiano Ronaldo são duas entidades do futebol, desde já entre os maiores da história, posto que ambos já conquistaram há pelo menos uns três anos e apenas consolidaram nos últimos tempos. Na era mais midiática, mais globalizada do esporte, os dois monopolizaram a disputa pelo posto de melhor jogador do mundo, tornaram a Liga dos Campeões um campeonato mais incrível do que já era e de quebra fizeram a Liga Espanhola ser uma verdadeira mina de boas histórias nos anos em que ambos se enfrentaram dentro da terra da Paella. Quantas crianças mundo a fora não aprenderam a amar este maravilhoso esporte devido a essa dupla? 

O argentino, chamado de ET, é quase uma representação viva da imprevisibilidade do futebol. O pequeno homem que desmontou defesas por toda a Europa, por todo o Mundo, o garoto de La Masia que colocou o Barcelona no topo do futebol mundial, o cérebro na ponta da chuteira, talvez o melhor jogador de futebol desde Pelé, talvez até o melhor da história, para alguns acima até do Rei em talento bruto. O português virou, mesmo convivendo na época de Messi, o Senhor Champions League, um ser-humano que forçou-se a bater todos os recordes possíveis. Uma "besta enjaulada com ódio" que é quase uma força inevitável da natureza, o homem que deu a Portugal os dois títulos em sua história futeboleira. Enfim, outro gigante.

Desta dicotomia criou-se rivalidade, criaram-se fã-clubes, criaram-se duas marcas de imenso sucesso. Messi não seria tão grande quanto é sem CR7, Ronaldo não seria o que é sem Messi lhe desafiando. Para boa parte dos "millenials", da "Geração Z" e das crianças da "Geração alfa" os dois são de fato os maiores que puderam ver. Infelizmente, tudo nessa vida tem um fim, até o que é bom. Nessa inoxorável e inevitável lógica, a trajetória desses dois gigantes infelizmente está chegando a seu final e quem sabe a última dança de ambos no mesmo tapete verde tenha acontecido hoje.

Neste caótico 2020 é de uma tristeza imensa que esse confronto ocorra sem a presença dos torcedores, privilegiados que foram por poder ver ambas essas lendas ao vivo. Os abençoados barcelonistas, que aproveitaram todo o auge de Messi, os bianconeros, que são os beneficiados da vez com a força quase imparável de Cristiano, que já fez a alegria de sportinguistas, de fãs dos Red Devils e, principalmente, da enorme torcida madridista. A provável última valsa será sem o calor dos aplausos, sem o frio das vaias e sem o incentivo das arquibancadas. Um final quase indigno desta tão maravilhosa dicotomia que marcou e marcará para sempre a história do futebol.

Esse confronto do dia 8 de dezembro terminou com uma esperada e quase corriqueira vitória da Juventus de Cristiano Ronaldo. O Barcelona hoje, apesar de ter Messi, é um time que dista muito do nível dos times mais fortes do futebol europeu. O momento dos Culés é tão assustadoramente ruim que há o perigo real da equipe azul e grená sequer talvez se classifique para a Liga dos Campeões através do Campeonato Espanhol. Não é exagero nenhum dizer que hoje o Barça não tenha condição de competir com nenhum dos times fortes da Europa, desde o Super Bayern até o Paris Saint Germain. O placar de 3 a 0 mostra a diferença entre as equipes hoje, uma distância longe de ser digna da história construída no confronto. 


Porém, é fato que todas essas palavras podem virar letras jogadas ao vento. O futuro de Messi é incerto. Desde uma improvável permanência na Catalunha até uma surpreendente volta a Argentina, tudo pode acontecer. Surgiram recentemente boatos de uma transferência ao PSG de Neymar, mas há muito o Manchester City é considerado favorito para contar com seus excepcionais serviços. Mas, como já especulado, uma surpreendente ida a Inter poderia fazer com que a esperada última dança vire de novo uma constante, voltando o Calcio ao seu antigo patamar. A sensação, porém, é que o duelo entre Barça e Juve é uma situação que dificilmente se repetirá antes da apoteose desta rivalidade nos campos.

Se o último confronto ou não, o jogo ocorrido há pouco, por uma competição onde Léo e Ronaldo não se enfrentavam desde 2011, deixa a sensação de despedida. Só o tempo dirá se teremos outra chance de assistir esses rivais históricos se enfrentando dentro das quatro linhas novamente, mas se esta foi, de fato, a última dança, ela soa triste, melancólica e dolorosa como uma fusão bem feita entre o tango e o fado, tocando uma última nota dessa sinfonia que nos deixou tão atônitos por tantos anos. Só nos resta dizer obrigado.
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