Botafogo 24 x 0 Mangueira - Em 1909, a maior goleada do futebol brasileiro

Por Auriel de Almeida / Historiador / Botafogo
Foto: arquivo

O Botafogo de 1909

Em 30 de maio de 1909, no Campo da Rua Voluntários da Pátria, em jogo válido pelo Campeonato Carioca, o Botafogo venceu o Mangueira por um placar tão impressionante que, mais de um século depois, nunca foi alcançado: 24 a 0. O Glorioso possuía um dos melhores times do Brasil, e nomes como Flávio Ramos, Dinorah, Coggin, Lulú Rocha, Rolando de Lamare e Gilbert Hime eram celebrados no meio esportivo como grandes estrelas do foot-ball brasileiro.

O Mangueira, clube rubro-negro da Tijuca já extinto (e sem relação com a famosa escola de samba) era uma equipe mais fraca, e vinha de derrotas por 3 a 2 para o Haddock Lobo e 2 a 0 para o Riachuelo. O Botafogo, por sua vez, vencera o Riachuelo por 6 a 0 e empatara com o Fluminense em 2 a 2. O Alvinegro era claro favorito, favoritismo que aumentou quando o Mangueira compareceu em campo com apenas dez jogadores - um havia faltado - mas ninguém esperava uma vitória tão elástica.

O jogo - Com uma média de um gol a cada 3 minutos - as partidas duravam 80 (dois tempos de 40) na época - o Botafogo esmagou o Mangueira por 24 gols, não tendo a gentileza de sofrer ao menos um. O resultado foi por si só tão incrível que os jornais da época mal sabiam o que escrever sobre o andamento do jogo, fora a ordem dos gols e impressões gerais sobre a partida.

E talvez não houvesse mesmo o que dizer: o Botafogo foi uma máquina, constante e eficiente, com toques de bola precisos, penetração na área e chute certeiro no gol, minuto após minuto, sem dó. O pobre Mangueira, se mereceu algum elogio em tamanha derrota, foi o de jogar limpo mesmo com a crescente adversidade no placar.

Levando em conta o placar final, pode-se dizer que o Botafogo foi até modesto no primeiro tempo. Marcou “apenas” nove gols, conquistados na ordem: Gilbert Hime (1 a 0), Gilbert Hime (2 a 0), Gilbert Hime (3 a 0), Monk (4 a 0), Dinorah (5 a 0), Gilbert Hime (6 a 0), Gilbert Hime (7 a 0), Flávio Ramos (8 a 0) e Flávio Ramos (9 a 0).

Os 15 gols do segundo tempo foram marcados por Flávio Ramos (10 a 0), Gilbert Hime (11 a 0), Emmanuel Sodré (12 a 0), Gilbert Hime (13 a 0), Raul Rodrigues (14 a 0), Lulú Rocha (15 a 0), Gilbert Hime (16 a 0), Flávio Ramos (17 a 0), Gilbert Hime (18 a 0), Monk (19 a 0), Henrique Teixeira (20 a 0), Flávio Ramos (21 a 0), Flávio Ramos (22 a 0), Lulú Rocha (23 a 0) e Flávio Ramos (24 a 0), decepcionando quem achou que o Alvinegro teria pena do Mangueira na etapa final.


O resultado absurdo originou várias lendas urbanas nesse mais de um século. Na mais famosa o goleiro Luiz Guimarães, do Mangueira, teria jogado com uma enorme poça de lama à sua frente e não quis se atirar nas bolas chutadas para não sujar o uniforme. Não há nenhuma menção nos jornais da época a tal história - o jogador inclusive é elogiado pela imprensa, mesmo tendo sofrido 24 gols, e considerado "inocente" pelo desastre sofrido pelo seu time.

Em outra o time do Mangueira estaria tão desfalcado que teria jogado com uma equipe formada por diretores e funcionários do clube. Outro mito facilmente derrubado com uma simples consulta na escalação do clube no noticiário esportivo ou na súmula da partida. O rubro-negro da Tijuca jogou com apenas dez jogadores, mas todos eram atletas do clube.

Se há algum fato curioso comprovado sobre o jogo é o comportamento do árbitro Antônio Miranda, criticado pela imprensa esportiva por deixar de acompanhar o jogo para conversar com pessoas do público. Verdade seja dita, à época o juiz não costumava interferir na partida – os jogadores controlavam o jogo, só recorrendo ao árbitro em caso de divergência entre as equipes - mas a atitude foi considerada desrespeitosa.
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