87 anos da primeira edição do Jornal dos Sports

Por Lucas Paes 


Neste dia 8 de agosto, completam-se 87 anos da primeira edição do Jornal dos Sports, histórico periódico carioca que já foi lar de grandes jornalistas e o maior jornal esportivo do Rio de Janeiro e com certo alcance nacional durante um bom tempo. O veículo teve sua ultima edição vendida em 2010, quando chegou inclusive a ter um site e sobreviver online, mas hoje é apenas parte da história do jornalismo esportivo brasileiro. 

A história começou em 1931, com uma diagramação de páginas rosas, baseadas no francês L’Auto, que depois virou o L’Equipe, junto a France Football o veículo esportivo mais famoso da França. Tudo começa quando Argemiro Bulcão, diretor do Rio Sportivo, propõe uma sociedade com Ozéas Mota, com um capital inicial seis contos de réis. Juntos eles fundaram o Jornal dos Sports. A ideia de fortalecer o esporte vinha já na capa, que tinha figuras de praticantes de lançamento de disco, levantamento de peso, tênis, futebol, golfe, natação, remo, corrida, boxe e hipismo. 

Inicialmente, o jornal tinha quatro páginas, todas em preto e branco e era vendido a 100 réis. Já desde os primórdios, figurava um tom político no jornal, que fazia criticas a divisão de ligas do futebol carioca e também para a não profissionalização do futebol na época. Em 23 de Março de 1936, o jornal foi impresso pela primeira vez em cor de rosa, tonalidade que o tornaria famoso.

Em outubro daquele ano, Mário Filho, jornalista que já colaborava com a publicação, comprou o veículo com a ajuda de Roberto Marinho, José Bastos Padilha e Analdo Guinle. Inovador, Mário introduziria diversas novidades ao veículo, como charges, notícias relacionadas a diretoria dos clubes e também uma cobertura mais ufanista do Brasil na Copa do Mundo de 1938. Depois, Mário Filho faria também campanha para a aprovação da ideia de Ary Barroso de construir um estádio no bairro do Maracanã, ao invés de construir em Jacarepaguá, como queria Carlos Lacerda. Nessa época cronistas como José Lins do Rêgo e Nelson Rodrigues passaram pelo jornal. Mário Filho também seria um dos criadores do Torneio Rio-São Paulo, que daria origem ao Brasileirão.

Capa da estreia de Roberto Dinamite

Depois da morte de Mário Filho e do suicídio de Célia Rodrigues, sua esposa, seu filho, Mário Júlio Rodrigues, assumiu o jornal e passou a fazer diversas mudanças. Inspirado pelo jornalismo americano. Mas sua experiência mais radical foi a criação do adicional O Sol, que depois virou um produto próprio, que dava espaço para estudantes de faculdades conceituadas de jornalismo do país. As reformas eram inspiradas principalmente pela contracultura e temais mais ligados a juventude passaram a ser abordados. O jornal apoiou por exemplo o movimento das torcidas jovens no Rio de Janeiro, que deu origem a torcidas organizadas que estão ativas até hoje. As charges também criaram mascotes como o Urubu, para o Flamengo. 

Curiosamente, após a morte de Mário Júlio e a passagem do jornal para sua segunda esposa o coronel Geraldo Magalhães passou a comandar o jornal que viveu grande mudança editorial e passou por um período negro em sua história. Era o auge da repressão da Ditadura Militar, que não deixou de atingir o Jornal dos Sports. Mesmo nos anos 1980, já com a família Velloso, depois do período militar, o periódico ainda não conseguiu voltar aos tempos áureos, tendo nesta época como grande destaque a colaboração de Washington Rodrigues, criador da coluna Geraldinos e Arquibaldos, apelido criado por eles para torcedores que frequentavam tais setores do Maracanã. Além disso, foi criado nessa época o suplemento “Domingo é dia de Surf”, primeiro dedicado a modalidade no país.

No fim dos anos 1990, a chegada da concorrência do jornal “Lance!” começou a cavar a sepultura do jornal. Mesmo com a modernização, a adoção de mais cores e a venda para Omar Resende Peres Filho. Omar vendeu a marca para Lourenço Rommel Peixoto e Armando Garcia Coelho, que chegariam a ser presos em operação da Polícia Federal em 2004. O jornal ainda passou por outros dois proprietários e resistiu até 2010, quando finalmente deixou de existir. 

Apesar do melancólico fim, as novidades introduzidas pelo Jornal dos Sports fariam reflexo em todo o país e ajudariam a criar o que viraria referência no jornalismo esportivo nacional. Mesmo que tenha terminado de maneira triste, o veículo é essencial em qualquer menção a história do jornalismo esportivo brasileiro e o legado que deixou, principalmente nas mãos de Mário Filho e de seu filho Mário, nunca será apagado.
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