Fleitas Solich – O paraguaio que quase dirigiu a Seleção Brasileira

Por Lucas Paes

Fleitas Solich fez muito sucesso como treinador no futebol brasileiro

Manuel Fleitas Solich foi um jogador e treinador paraguaio nascido em 1900, na cidade de Assunção. Quando jogador, era conhecido por sua técnica refinada e se consagrou pelo Nacional de Assunção. Passou também por Boca, Platense, Racing, Talleres e Argentinos Jrs. Pela Seleção Paraguaia ele virou capitão meses depois de sua estreia e aos 21 anos passou a ser treinador e jogador, conseguindo alguns bons resultados acumulando as funções. Sua visão de jogo seria decisiva para que escolhesse continuar como treinador ao fim da carreira de jogador, que foi encurtada devido à uma grave lesão.

Como jogador, Fleitas foi campeão Paraguaio duas vezes e quatro do Argentino, mas foi como treinador que o paraguaio fez história: começou salvando equipes argentinas do descenso, até que quando voltou ao “Nacional Querido”, montou uma equipe famosa pelo futebol vistoso que praticava. Depois, passaria por diversos clubes e pela Seleção Paraguaia.

Solich passou pela seleção albirroja duas vezes: na primeira, em 1939, ficou menos de um ano, mas em 1947 assumiu para fazer sua mais longa e mais histórica passagem, quando a seleção que ele treinava jogou inclusive uma Copa do Mundo. Porém, o feito histórico viria no último ano de sua passagem, em 1953.

No ano citado, a equipe paraguaia conseguiu o título do Campeonato Sul-Americano de Seleções ao vencer o Brasil por 3 a 2, em um jogo desempate, levando a taça para Assunção. A conquista fez com que o Flamengo levasse o treinador a preço de ouro para a Gávea.

Paraguai campeão Sul-Americano de 1953

Antes disso, porém, a contratação teve alguns entraves salariais, mas a diretoria do rubro-negra cedeu, ponderando que valia a pena trazer o campeão sul-americano. Inicialmente, ele apenas observou o trabalho de Jaime de Almeida (pai do treinador campeão da Copa do Brasil em 2013) e depois passou a atuar a frente do time, contando com Jaime como seu auxiliar, uma dupla que daria muito certo.

Na altura da chegada do paraguaio, o Flamengo não conquistava um Campeonato Carioca desde 1944, quando foi tri campeão. A estreia de Solich foi no Rio-São Paulo de 1953 contra o Santos, com vitória por 3 à 2, mas a campanha na competição foi ruim. Seria no Carioca que o time conseguiria a redenção, com uma campanha épica e o título dos dois turnos. O jogo que consolidou Fleitas foi contra o Olaria, na Rua Bariri, quando através da troca de posições dos jogadores, o Fla marcou três gols e buscou uma vitória que parecia impossível.

O time conquistou o título tendo apenas duas derrotas na competição e vencendo todos os cinco jogos da fase decisiva, quebrando assim o jejum de nove anos sem conquista do estadual. O paraguaio caiu nas graças da torcida, aclamado por fazer a equipe jogar como um time. Outro ponto positivo de sua passagem foi a renovação do elenco. Solich trouxe jovens como Evaristo e Zagallo para o clube, além de barrar Rubens, um dos principais destaques do time, quando este foi pego bebendo com torcedores.

Escolhendo fazer amistosos na Europa, o Flamengo fez uma campanha fraca no Rio-São Paulo de 1954, mas no Carioca conquistou outro título. Com apenas duas derrotas na campanha, o time foi campeão pela segunda vez seguida tendo como um dos destaques o atacante Dida, jovem trazido do CSA.

Treinador foi multi-campeão no Flamengo

No ano seguinte, o Flamengo venceu os dois primeiros turnos com facilidade, perdendo o terceiro para o América, com quem fez a final. Na primeira partida, a vitória foi rubro-negra por 1 a 0 e a torcida que esperava a conquista na segunda partida se entristeceu com uma derrota por 5 a 1.

A terceira partida foi a mais épica do confronto, pois Fleitas começou a trabalhar o psicológico do time desde o minuto em que terminou a goleada. Além disso, ele fez uma troca decisiva pouco antes da partida, quando colocou Dida no lugar de Paulinho. O garoto foi decisivo e acabou marcando os quatro gols da goleada de 4 x 1 do Flamengo e do tricampeonato.

Com o sucesso de Fleitas Solich no Flamengo, ele esteve na lista de treinadores cogitados para comandar a seleção na Copa de 1958. Havia muita gente pedindo pelo treinador, mesmo com os resultados sendo piores nos anos de 1956 e 1957. Além dele, outro cogitado era o treinador Flávio Costa, que já tinha dirigido o Brasil na Copa de 1950. Porém com a recusa em contratar estrangeiros, o medo de repetir o Maracanazzo e o lobby de Paulo Machado de Carvalho, o escolhido foi Vicente Feola, que conquistaria o primeiro mundial da canarinho.

Se não conseguiu treinar a Seleção Brasileira, Solich acabou indo treinar uma verdadeira constelação de craques: o Real Madrid contratou o treinador paraguaio para o clube em 1958. A pressão era grande, já que o Real era só o então atual tricampeão europeu e não queria perder a hegemonia, mas queria recuperar o título da Liga, que o Barcelona havia ganhado no ano anterior. Solich chegou aos merengues com essa missão.

Solich em sua passagem pelo Real Madrid

Na capital espanhola, a tentativa de implantar o 4-2-4 acabou falhando. Solich teve um aproveitamento de 69% à frente do Real Madrid, o que não foi suficiente para manter o paraguaio nos Blancos. Apesar de disputar o título com o Barça na Liga Espanhola, o time acabou sendo derrotado no clássico na reta final por 3 a 1 e ficou praticamente sem chances de conquistar a Liga.

Solich não aguentou a pressão e entregou o cargo pouco antes dos jogos contra o próprio Barcelona, pelas semifinais da Copa dos Campeões, e o Real trouxe Miguel Muñoz, que foi campeão europeu, eliminando os baugranas e responsável direto pela demissão do lendário Helenio Herrera dos Culés do Barcelona, o que indiretamente influenciou no surgimento da Grande Inter que dominaria a Europa nos anos seguintes.

Depois da passagem pela Espanha, Solich acabou retornando ao Flamengo, onde conquistou o Rio-São Paulo em 1961, voltou a treinar a Seleção Paraguaia e ainda passou por Atlético Mineiro, Corinthians, Palmeiras, Fluminense e Bahia, conquistando um título paulista e um baiano, antes de anunciar a aposentadoria em 1971. Antes disso, porém, promoveu no Rubro Negro Carioca, em sua última passagem pelo clube, a estreia de um certo Zico no time principal.

Fleitas ganhou a fama de feiticeiro devido ao seu conhecimento espetacular sobre futebol, praticamente tudo o que ele dizia que ia ocorrer numa partida acontecia. O paraguaio foi responsável por difundir o esquema 4-2-4 no Brasil, iniciado por Bela Guttman (sim, o da maldição que dizem ser responsável pelas várias derrotas do Benfica em torneios europeus).A formação seria usada tanto pela Seleção Brasileira de 1958, quanto pela de 1970 (duas das mais brilhantes do Brasil) e por times como o eterno Esquadrão Santista dos anos 1960.

Solich lançou Zico em sua última passagem pelo Flamengo

Adepto do jogo ofensivo, Solich teve um papel crucial no futebol brasileiro, junto a outros treinadores, como Bela Guttman. Eles começaram a escola que daria início ao jogo bonito e à toda a fama que o Brasil conquistaria nos anos seguintes. Seu legado é eterno e incalculável para o futebol. Solich faleceu em 1984, aos 83 anos, mas está eternizado não só no coração da torcida flamenguista como de todos os fãs de futebol.

PS: Solich e Guttman foram dois estrangeiros responsáveis por revolucionar o futebol brasileiro nos anos 1950, que colocou o país no topo, diante dos fatos recentes não seria a hora de pensar de novo em nomes que viessem de fora do Brasil? O trabalho de Tite na seleção é excelente, mas apenas isso basta para atualizar o tão atrasado futebol tupiniquim?
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