João Saldanha - sucesso como cronista esportivo e treinador

João Saldanha com o agasalho da Seleção

O 7 de abril é uma data importante para este site. Hoje completamos 1 ano de atividades. Além disso, a data é importante para os profissionais de comunicação, já que se comemora o Dia do Jornalista. O Curioso do Futebol relembra alguns casos de cronistas esportivos que assumiram cargos de treinador na história do futebol brasileiro.

Antes de falar de João Saldanha, vamos, rapidamente, lembrar do caminho inverso. É comum no rádio e na televisão ex-jogadores e treinadores assumir vagas de comentaristas esportivos. Alguns, só com o conhecimento de campo mas sem técnicas de comunicação, acabam não passando a informação de forma completa. Outros, resolvem se especializar, fazem, inclusive, a faculdade de Jornalismo e acabam unindo as duas profissões.

Fumando e dirigindo o Botafogo

A história mais conhecida de um cronista esportivo que assumiu o cargo de treinador foi a de João Saldanha. Gaúcho de Alegrete, nascido em 3 de julho de 1917, João Alves Jobin Saldanha passou a infância em Curitiba e depois radicou-se no Rio de Janeiro. Na juventude, chegou a jogar no Botafogo mas, depois, estudou Direito e Jornalismo e começou a carreira de cronista na Rádio Guanabara.

Em 1957, então com 40 anos, o Botafogo resolveu contratar João Saldanha para treinador. Mesmo sem experiência no cargo, o cronista dirigiu a equipe que foi campeã carioca naquele ano e ficou no cargo até 1959. Depois disso, resolveu priorizar a carreira na carreira de cronista esportivo.

João Saldanha sendo entrevistado

Com opiniões fortes e contundentes, mas sempre mostrando conhecimento técnico e tático, João Saldanha fazia muito sucesso nas rádios, televisões e jornais do Rio de Janeiro. Filiado do Partido Comunista Brasileiro (PCB) sua escolha para dirigir a Seleção Brasileira em 1969 surpreendeu muita gente, já que vivíamos a época do regime militar. Porém, o presidente da então Confederação Brasileira de Desportos (CBD), João Havelange, o escolheu alegando que o contratou na esperança de que os jornalistas fizessem menos críticas à seleção nacional, tendo um deles como técnico.

Até a entrada do cronista esportivo no cargo, a maior crítica à Seleção Brasileira era a falta de base. João Saldanha foi, exatamente, na principal crítica: montou a equipe em cima dos times de Santos, Cruzeiro e Botafogo, os melhores do país naquele momento. O time, que ganhou o apelido de "As Feras de Saldanha" era: Félix; Carlos Alberto, Djalma Dias, Joel e Rildo; Piazza e Gerson; Jairzinho, Tostão, Pelé e Edu.

As 'feras' Gerson e Pelé com o treinador

E não é que vinha dando certo! Nas Eliminatórias, o Brasil atropelou seus adversários e a torcida voltou a apoiar com fervor a Seleção, algo que havia se perdido após a pífia campanha na Copa do Mundo de 1966. Mas o temperamento explosivo de Saldanha começou a atrair inimigos.

Mesmo com as vitórias, o famoso técnico Dorival Knipel, o Yustrich, do Flamengo, criticava Saldanha abertamente. Até que um dia, o treinador da Seleção ameaçou o rival com um revólver. Além disso, diziam que Saldanha não entendia da parte física, o que causava desentendimentos com a Comissão Técnica, acarretando o pedido de demissão de seu auxiliar. Muitos diziam que era impossível conviver com o temperamento do treinador.

Comentando jogo no Maracanã

A gota d'água, segundo o próprio Saldanha, foi um pedido. O treinador negou uma solicitação do então presidente ditador do Brasil, o militar Emílio Garrastazu Médici, que pedia o centroavante Dario, o Dadá Maravilha, no escrete canarinho. O pedido, é claro, não foi atendido pelo comunista João Saldanha. Com tudo isso, João Saldanha foi demitido da Seleção Brasileira poucos meses antes da Copa do Mundo de 1970.

A CBD foi, primeiramente, atrás de Dino Sani para comandar a Seleção Brasileira. Com a negativa dele, a entidade que comandava o futebol contratou Mário Jorge Lobo Zagallo. E essa história todos nós conhecemos, que terminou com o título de campeão do mundo, mas com muitos dizendo que os jogadores mandavam mais que o treinador.

Famosa entrevista no Roda Viva em 1987

Após a demissão da Seleção Brasileira, João Saldanha voltou à sua carreira no Jornalismo. Criou vários citações que ficaram na história do nosso futebol, como: "o futebol brasileiro é uma coisa jogada com música". No final da vida, foi um dos maiores críticos da europeização do futebol brasileiro, com a adoção de esquemas mais defensivos e a perda de algumas de nossas principais características, como o jogo hábil e voltado ao ataque.

Em 1985, João Saldanha foi candidato à vice-prefeito do Rio de Janeiro, pelo PCB, em chapa encabeçada por Marcelo Cerqueira, do PSB. Nos últimos anos de vida, o cronista estava debilitado, principalmente devido ao cigarro, que usava com muita freqüência. Mesmo assim, ele foi até a Itália, para trabalhar na cobertura da Copa do Mundo de 1990, pela extinta Rede Manchete. E foi lá, no dia 12 de julho de 1990, que João Saldanha veio a falecer, mas fazendo o que mais gostava, que era falar sobre futebol.
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