O futebol europeu mais inglês do que nunca

Por Lucas Paes

Salah, Lucas, Aubameyang e Hazard: Jogadores dos times ingleses finalistas

Na temporada de 2008/2009, há exatamente 10 anos atrás, tivemos quatro times ingleses jogando as quartas de final da Liga dos Campeões da Europa. Chelsea, Liverpool, Arsenal e Manchester United chegaram a aquela fase aguda, com os Gunners, os Red Devils e os Blues indo as semifinais. Na final, porém, o campeão foi o “intruso” Barcelona, de Messi e Eto’o. Desde então, o Liverpool quase faliu, o Chelsea ganhou a Liga dos Campeões e viveu queda absurda nos anos recentes e o Arsenal perdeu o protagonismo europeu. Pelo menos até essa temporada. Nunca tinha acontecido de termos quatro ingleses decidindo as principais competições europeias. 

Na Liga dos Campeões, a sensação do futebol mundial em 2019, o Liverpool de Jurgen Klopp, escreveu uma das páginas mais incríveis e bonitas da já colossal história dos Reds para tornar um 3 a 0 um 4 a 0 sobre o Barça em Anfield e chegar a decisão. Do outro lado, com um Lucas vivendo um dia digno de um gigante, o tão sofrido Tottenham acabou com a outra sensação do futebol mundial, o Ajax de Ten Hag, com um eletrizante 3 a 2 para chegar a decisão da Liga dos Campeões. Lucas, a “eterna promessa”, o “Flopp”, marcou os três gols dos Spurs, colocando o jogo no bolso e calando a agitada Amsterdam Arena. 

Na outra competição, o Arsenal, de tantos “fracassos” recentes que ganhou até o apelido de “Fracarsenal” não tomou conhecimento do Valencia. No Emirates, vitória tranquila por 3 a 1 antes de um triunfo por um eletrizante 4 a 2 dentro de Nou Mestalla, deixando para trás os espanhóis. Na outra semi, o Chelsea, do “exército de um homem só” Hazard, sofreu diante de um organizado e bom Entracht Frankfurt, passando apenas nos pênaltis, depois de dois empates, acabando com outra sensação da temporada europeia. 

A Premier League já é há alguns anos a melhor liga de futebol do planeta. Cifras milionárias, jogos eletrizantes e, particularmente nessa temporada, uma disputa pelo título que foi eletrizante, com Manchester City e Liverpool deixando todos para trás e voando, com o título indo para os Citizens, que chegaram a perder taça durante uns bons 30 minutos na última rodada. Porém, faltava a liga inglesa um protagonismo europeu, que não falta mais, em hipótese alguma. 

Há certo consenso nas discussões que Manchester City e Liverpool são hoje os melhores times de futebol do planeta. Os azuis de Manchester, que contam com o lendário Pep Guardiola, um quase Deus dos pontos corridos e responsável pela maior revolução do futebol nos últimos anos, praticam um futebol vistoso e bonito de se ver, envolvendo adversários na posse de bola e na movimentação e fazendo incríveis 98 pontos na Premier League, um a mais que a já absurda campanha dos Reds. Na Liga dos Campeões, sonho de consumo dos torcedores, porém, o time parou no finalista Tottenham, em uma eliminatória em que faltou inspiração em algumas peças do esquema de Guardiola. 

O outro “melhor time do Mundo”, Liverpool, de Klopp, é praticante de um futebol muito interessante, ainda que diferente de Guardiola, focado numa pressão sufocante em seus adversários, mas também sabendo trabalhar bem a bola quando necessário, fez, desfalcado de Salah e Firmino, dois dos principais nomes do que hoje é o trio de ataque mais temido da Europa, um jogo perfeito diante do Barcelona, sufocando os Culés, contando com um inspiradíssimo Alisson para evitar as investidas espanholas e aproveitando suas chances para fazer um 4 a 0 que nem o mais otimista torcedor sonhava. Ainda que a perda da Premier League seja frustrante, os Reds vivem o início de um momento que pode ser um dos mais gloriosos do clube. A sexta taça europeia, além de evidenciar a até esquecida grandeza do clube, elucidaria o excelente trabalho de Klopp 

A decisão da Liga dos Campeões envolverá este candidato a “supertime” dos próximos anos, que já começa a dar sinais de um possível domínio europeu (são duas finais seguidas, afinal) diante do franco atirador menos franco atirador do futebol. Engana-se, pois, quem pensa que o Tottenham de Pocchetino, Son, Delle Ali, Kane e claro, Lucas, chegou aqui a toa. Os Spurs são também praticantes de um jogo vistoso e ofensivo e podem fazer com que a tão bonita temporada dos Reds termine em decepção. Se o Tottenham tiver mais ambição nos próximos anos, é forte candidato a ocupar cadeiras altas no futebol europeu. A chegada a final da Liga dos Campeões pode ser só o início disso. 

Na outra competição, o clássico londrino na final da Europa League coloca em jogo duas histórias distintas. O Chelsea, de futebol claudicante e instável, vivendo um caos enorme interno que culmina inclusive em uma punição que deixará o clube sem contratações nas próximas duas janelas, tem a chance de salvar sua temporada na Europa League. A competição também representa uma despedida do ídolo Hazard, que deixará os Blues na janela, ao que tudo indica para o Real Madrid. Hazard carregou os londrinos nos últimos anos, sendo peça chave inclusive no último titulo da Premier League. Se Sarri ainda vive no comando dos Blues, muito deve-se a partidas espetaculares do belga, que já antecipadamente deixa saudades em corações azuis. 

Já o Arsenal vive o início do trabalho de Unai Emery, que tornou o futebol dos Gunners mais coletivo e ofensivo, mas ainda precisa de peças para poder pensar em talvez brigar com Liverpool e City. O elenco do dono do Emirates Stadium ainda possui muitas carências, ainda que tenha caras como Aubameyang, Mikhtaryan (que não jogará a final, já que não é possível garantir que um armênio esteja seguro no Azerbaijão) e Ozil. O título seria um alicerce bom para a reconstrução que pode acontecer pelos lados dos canhões. 

Como a Premier League vive tal momento? Cifras altas, equilíbrio nas cotas de tv, postura mais ativa no mercado e modernização de conceitos do jogo se somam para que times ingleses estejam cada vez mais distantes do “Kick and Rush”, incluindo nisso até a seleção, que pratica um futebol muito bom de se ver. A consequência começa a ser vista e só o futuro dirá se teremos um domínio inglês ou é apenas um ano bom, como foi 2009, por exemplo. Porém, muita coisa mudou nesses dez anos, obviamente. 

Independente de qualquer coisa, os dois jogos prometem. Primeiro Baku, no Azerbaijão, viverá no dia 29 a experiência de um clássico londrino, cercado de rivalidade, decidindo um título europeu. Já três dias depois, Madrid viverá, no novo Wanda Metropolitano, a “maior final de FA Cup de todos os tempos”, para usar um termo que circula nas redes de memes inglesas. Só o futuro dirá se é só uma fase, um ano bom, ou se o domínio da Premier League veio pra ficar e ofuscar os anos dos espanhóis no topo.
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