Sima - O "Pelé do Piauí"


O futebol brasileiro tem histórias riquíssimas e algumas são esquecidas nos grandes centros do futebol por terem acontecidos em outros estados. Um destes grandes fatos é sobre Simão Teles Bacelar, ou simplesmente Sima, que está completando 71 anos neste 7 de março de 2019. Com mais de 500 gols na carreira, feitos em sua maioria por clubes do Piauí, entre 1966 e 1987, ele é o maior artilheiro da história do Nordeste. Por isto, é conhecido como o "Pelé do Piauí" ou "Pelé do Nordeste".

Simão Teles Bacelar nasceu no povoado Matões, município de Miguel Alves, interior do Piauí, no dia 7 de março de 1948. Ainda criança foi para Teresina, onde fixou residência. Antes de deslanchar no futebol profissional, Sima disputou o I Torneio Intermunicipal de 1967 defendendo a Seleção de Barras e terminou como artilheiro principal do certame, com 12 gols. A partir de então despontou como um dos maiores goleadores do país.

O meia-atacante Sima começou sua carreira no Piauí, em 1966, depois de passar, como juvenil, pelo Leão XIII. Conquistou com o time os Campeonatos Piauienses de 1967, 1968 e 1969. Foi ainda o artilheiro do campeonato nas duas últimas conquistas e ainda em 1970 e 1971. Em 1969 passou um mês no Sport, em período de teste, mas jogou apenas uma partida e retornou para o Piauí. Em 1971 foi emprestado ao Moto Club, sendo vendido no mesmo ano para o Bahia. No início de 1973, transferiu-se em 1973 para o Tiradentes, por vinte mil cruzeiros ("Negócio da China", segundo a revista Placar), onde conquistou o bicampeonato piauiense em 1974 e 1975, sendo de novo o artilheiro do campeonato nas duas ocasiões. Ainda foi um dos titulares do elenco do primeiro time a representar o Piauí em um Campeonato Brasileiro, em 1973.

Quando chegou ao Ríver, em 1977, foi, de cara, campeão e artilheiro disparado do Campeonato Piauiense de 1977, quando não foi expulso nem sequer tomou um cartão amarelo ao longo dos três turnos. Seus 33 gols no torneio fizeram dele o maior artilheiro dos estaduais do Brasil naquele ano e fez muitos na torcida do time acreditar que ele teria uma chance na Seleção Brasileira. Não teve, mas seguiu fazendo seus gols, incluindo sete no Campeonato Brasileiro de Futebol de 1977, quando renovou contrato apenas no dia da estreia do time, graças à movimentação de empresários de Teresina, que não queriam ver seu artilheiro sair e ajudaram o clube a fazer uma proposta mais próxima do que o atleta pedia.

Dos seus sete gols, quatro foram marcados naquele primeiro jogo, contra o América de Natal, o que o tornou "o grande assunto do dia" no Piauí, segundo o jornal Folha de S. Paulo. "Foi um ano de ouro e meu melhor momento no futebol", admitiria, anos depois. Nos anos seguintes, viria a se tornar o maior artilheiro da história do Ríver, com 185 gols. Também passou a só assinar contratos se ganhasse um carro 0 km como luvas e seu salário fosse o maior do futebol no Piauí.

Conquistou ainda os Campeonatos Piauienses de 1978 e 1980 com o Ríver, assim como a artilharia em 1978 e 1979. Neste último, voltou no início do segundo turno de um empréstimo ao Leônico, da Bahia, e ajudou a acabar com uma má fase do time, incluindo uma goleada por 12 a 2 sobre o Auto Esporte. Entre 1981 e 1982 passou por Ferroviário (1981) e Sergipe (1982), mas voltou ao Ríver para o Campeonato Brasileiro de 1982, em que foi apresentado como a grande novidade do time. A campanha foi péssima, com oito derrotas em oito jogos, mas Sima marcou quatro dos seis gols do time, incluindo dois contra o Botafogo no Maracanã.

Mais tarde, ainda naquele ano, defenderia o rival Flamengo. Depois de mais uma breve passagem pelo Ríver, chegou ao Auto Esporte em 1983 e, já veterano, passou a dar-se bem também como marcador do meio-campo adversário, conquistou o Campeonato Piauiense de 1983, quando conquistou sua última artilharia de campeonato, com 22 gols, e participou da primeira campanha do clube no Campeonato Brasileiro, em 1984. De volta ao Piauí, ganharia ainda o campeonato de 1985, sendo o artilheiro do time, com oito gols. No total, foi dez vezes campeão piauiense e conquistou onze artilharias. Como era sempre o destaque do time piauiense que porventura defendesse em Campeonatos Brasileiros, não poderia ser diferente em 1986, com o Piauí: marcou três dos cinco gols do time na péssima campanha (uma vitória, um empate e seis derrotas).

Fora do Piauí, não teve grande destaque. Ele sabia que era no Piauí que se dava bem. "Fui infeliz", contou em 1985. "Em outros estados não recebi o apoio que esperava e passei por problemas pessoais." Ainda assim, conquistou o Sergipano de 1982 com o Sergipe. Os 529 gols que marcou ao longo de sua carreira credenciam-no como um dos doze maiores artilheiros brasileiros em todos os tempos, levantamento do livro Grandes Clubes Brasileiros, de Marcelo Migueres e Celso Dario Unzelte. Pelas suas contribuições ao futebol piauiense, foi agraciado com a comenda da Ordem do Mérito Renascença, mais alta condecoração do estado, pelo governador Hugo Napoleão.

Depois de mais uma breve passagem pelo Ríver, em 1987, pendurou as chuteiras, aos 39 anos. Hoje, trabalha como instrutor de futebol em escolinhas da Secretaria Municipal de Esportes e Lazer da prefeitura de Teresina. Sem nunca ter sido expulso ao longo dos 565 jogos que disputou em sua carreira, ganhou o Prêmio Belfort Duarte em janeiro de 2000, dado aos atletas que nunca foram punidos pela Justiça Desportiva e que já pleiteava desde 1977. Em 2014, ganhou uma homenagem: a versão regional do Prêmio Arthur Friedenreich, dado anualmente ao artilheiro do Nordeste no ano, recebeu o nome de Prêmio Sima em sua homenagem. Nada mais justo para o grande artilheiro da região.
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