Felipão – Velhos conceitos e novos usos no título palmeirense

Por Lucas Paes

Felipão usou métodos comuns em sua carreira, mas aplicou novidades
(foto: Paulo Sergio / Agência F8)

Depois de 2014, Felipão ouviu muito do que merecia pelo momento e muito do que não merecia pela sua história. Naquele momento, merecia realmente as duras palavras dirigidas a ele, pois no futebol atual mundial, ele tem conceitos ultrapassados. Porém, é preciso respeitar o que, ainda com o enorme vexame de 2014, é um dos maiores treinadores da história do país, afinal, não vamos esquecer o penta. Em 2018, a notícia de sua volta ao Palmeiras, antigo reduto do “moderno” Roger Machado teve cara virada da torcida e da imprensa, porém, as coisas deram certo e o Verdão comemora seu décimo título brasileiro. 

Em pouco tempo, Felipão tornou o time que parecia não ter sangue em um time lutador, raçudo e, acima de tudo, unido. Num elenco recheado de nomes fortes e “cobras criadas”, era preciso saber lidar com a vontade de todos de jogar e saber explicar o papel de cada um, algo que Felipão soube e sabe fazer como poucos. O time desunido, sem uma cara e frio se tornou forte, invicto, líder e assumiu o primeiro lugar da tabela para não sair mais. Na Copa do Brasil, dura derrota para o Cruzeiro, do excelente Mano Menezes e na Libertadores uma derrota para o Boca causada em grande parte por momentos de rara inspiração de Benedetto. Nada apaga o brilhante título brasileiro. 

Roger Machado tem um trabalho baseado em conceitos modernos e à longo prazo provavelmente virará forte nome entre os técnicos brasileiros, porém falhou no Palestra em entender como ter um clima de companheirismo num elenco tão estrelado e não soube aproveitar as características de seus jogadores. Seu aproveitamento esteve longe de ser ruim nos números, mas foi fraco para o time que tinha em mãos. Felipão e seu braço direito, Paulo Turra, trataram de trabalhar em cima de um conceito de jogo que fortalecesse a fragilizada defesa alviverde e fizesse o time jogar mais objetivamente. Obviamente, como é possível ver, o trabalho deu certo. 

No aspecto tático, o Palmeiras passou a ser um time muito mais vertical e teve uma defesa muito mais forte. Porém, os gols vinham devido a qualidade de seus jogadores, o que aliás é notável em todos os setores. Deyverson, pouco usado por Roger, virou talismã, Lucas Lima, contestado, virou peça importante, Moisés voltou de lesão e também contribuiu. Acima de tudo, Dudu, também cobrado e em baixa, voltou a ser o craque e ídolo da torcida, símbolo desse novo e avassalador Palmeiras, que do fundo de suas cinzas voltou forte e conquista o segundo título em três anos. 

Segundo entrevistas, os jogadores viram em Felipão a figura do salvador e no trabalho do dia-a-dia, o auxiliar Paulo Turra tinha tanta liberdade no comando do time quanto o próprio Scolari, chegando inclusive a comandar exercícios inteiros. O treinador do penta do Brasil dá inclusive a Turra o crédito pelo acerto na defesa e crê que seu auxiliar vá, em breve, fazer grande carreira solo. Outro aspecto importantíssimo foi em fazer com que cada jogador entendesse que era importante para o esquema, recuperando assim muitos que vinham em queda.

Na derrota em 2014, Felipão foi taxado de "ultrapassado"

Talvez o grande mérito de Scolari nisto tudo, além do já citado, tenha sido tornar o time uma “família”. O ambiente melhorou, com cada atleta tendo consciência que não jogaria sempre e que cada um tinha importância igual para o “funcionamento da máquina”. Azeitado em sua união e sem sofrer com insatisfações no elenco, naturalmente a diferença do escrete alviverde para o resto do Brasil começou a aparecer. Vitórias se acumularam, um tabu de 16 anos sem vitórias contra o São Paulo no Morumbi foi destroçado, num triunfo direto e essencial para o título e que tirou o Tricolor do Morumbi da reta da conquista. Nos momentos mais difíceis, apareciam Deyverson, Dudu, Vitor Luis, Moisés, Yohan, fosse quem fosse para salvar o Alviverde Imponente, que, em outro clássico, diante dos santistas, contou com a sorte até na colaboração do goleiro adversário. Se o vento soprava contra, agora ele ajudava o título a chegar. 

As eliminações para Cruzeiro e Boca Juniors poderiam abalar o time, mas acabaram virando combustível para que se colocasse mais força ainda na campanha. O Brasileirão virou a menina dos olhos de um elenco vasto e cheio de qualidade e, naturalmente, ninguém conseguiu mais alcançar os palestrinos. O Flamengo chegou perto, mas Paquetá perdeu um gol feito. Chegou perto de novo depois do empate palmeirense com o lanterna Paraná, até se pôs a sonhar com triunfo diante do Grêmio no Rio Grande do Sul, até que Deyverson, recuperado por Felipão, um dos símbolos desse novo momento, que parece emanar as vontades de cada torcedor palmeirense dentro de campo, marcou o gol do título. 

Não é possível tirar os méritos de Scolari, que achou na parceria com Paulo Turra uma dupla vencedora, que recuperou o ânimo e a vontade de um elenco galáctico (para os níveis nacionais) que parecia dormir no ponto, que recuperou até jogadores que a torcida duvidava. Quando ninguém mais acreditava, não importa pelo motivo que seja, a “Família Scolari” volta a dar certo numa das principais casas do treinador, que se redime de 2012 e torna esse forte e novo Palmeiras o primeiro a chegar a 10 títulos brasileiros. Um feito enorme de quem muita gente considerava acabado, tanto Felipão, quanto o elenco do Palmeiras.
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