O dia em que a Colômbia parou a futura Campeã do Mundo

Por Fábio Lázaro

Rincón fez o gol que colocou a Colômbia nas oitavas da Copa do Mundo de 1990

Era 19 de junho de 1990, enquanto na Itália a seleção colombiana jogava pela segunda vez na história uma Copa do Mundo, a situação no país sul-americano não era das melhores. A Colômbia era assombrada por grupos de guerrilhas, como as FARC e o M-19, e loteado por cartéis de narcotráfico, sendo o maior centro de distribuição de drogas do mundo à época. Nesta disputa territorial entre narcotraficantes o futebol colombiano fez-se objeto de poder territorial, já que os clubes mais tradicionais do país eram comandados por esses criminosos, tal qual o Atlético Nacional de Medellín, admininstrado pelo famoso Pablo Escobar, e outras equipes como o América de Cali, Millonários da capital Bogotá etc.

Como David Luiz em 2014, os jogadores colombianos só queriam dar alegrias ao seu povo, mas tinham a difícil missão de se classificar para a fase de mata-mata da Copa pela primeira vez na história, num grupo com a Alemanha Ocidental (bicampeã mundial e europeia), Iugoslávia (duas vezes finalistas na Eurocopa e duas vezes semifinalista na Copa do Mundo) e os Emirados Árabes (treinado pelo brasileiro Carlos Alberto Parreira, que seria campeão mundial com o Brasil quatro anos mais tarde). Com seis grupos de quatro equipes cada, avançariam para as oitavas de final os dois primeiros colocados de cada grupo e os quatro melhores terceiros colocados. Na época, as vitórias valiam apenas dois pontos (diferentemente dos três que valem atualmente), já os empates valiam o mesmo ponto único de hoje em dia.

Após a vitória por 2 a 0 contra os Emirados Árabes na estreia, a missão colombiana parceira fácil, mas as coisas começaram a se complicar na segunda partida. A derrota por 1 a 0 contra a Iugoslávia fez com que a Colômbia obrigatoriamente não pudesse perder na última rodada, justamente contra a poderosa Alemanha, de Matthaus, Klinsmann e treinada por Beckenbauer.

A Alemanha Ocidental era a favorita na partida

No lendário estádio Giuzzepe Meaza, o San Siro, em Milão, Colômbia e Alemanha fizeram uma partida muito apertada, onde tanto Renê Higuita, goleiro colombiano, quanto Bodo Ilgner, arqueiro alemão, tiveram que trabalhar. De acordo com relatos de atletas colombianos após a partida, os jogadores alemães estavam tomados de prepotência, pouco olhavam e muito menos falavam com os jogadores da Colômbia em campo, num clima de que poderiam vencer à qualquer momento.

O empate era suficiente para a Colômbia, que se classificaria entre as melhores terceiras colocadas, diferentemente de uma eventual derrota, que deixaria os tricolores com apenas dois pontos e consequentemente eliminaria a seleção da Copa do Mundo.

O 0 a 0 apertado persistia no San Siro até os 43 minutos do segundo tempo, quando o meia Littbarski (que entrou no decorrer da partida no lugar de Bein) recebeu um bom passe pelo lado esquerdo, dominou, invadiu a área e encheu o pé com a perna canhota no alto do gol de Higuita, estufando as redes. Era o fim da Copa para a Colômbia.

Littbarski abriu o marcador

Mas o futebol nos pega peças que não imaginamos. Aos 47 minutos do segundo tempo era a Alemanha que estava com a posse de bola no comando de ataque com Rudi Voller pelo lado esquerdo, mas o jogador alemão é desarmado e dá à Colômbia a oportunidade de criar o último lance de ataque do jogo, que não só mudaria a história da partida, mas que também se transformaria num dos maiores momentos do futebol colombiano.

Em jogada ofensiva que começou e terminou com o conhecido do futebol brasileiro, em especial paulista, Freddy Rincón, o ex-Palmeiras, Corinthians e Santos recebeu passe do lendário Carlos Valderrama, devolveu para o camisa 10 e disparou pelo lado direito de campo. Valderrama, então, acertou um passe milimétrico entre quatro alemães que encontrou Rincón sozinho na cara de Ilgner. Na definição, diferentemente do homônimo brasileiro, teve calma e tranquilidade para dominar, avançar, esperar a definição do goleiro alemão e colocar no meio das pernas de Ilgner.

O gol de empate da Colômbia marcou a primeira classificação dos tricolores na história das Copas. E o feito poderia ter sido ainda maior se não fosse uma falha grotesca do insano goleiro Higuita em plena prorrogação contra Camarões nas oitavas de final. Após um empate sem gols no tempo regulamentar, a partida foi para a prorrogação. E em 10 minutos choveu gols no estádio San Paolo, em Napoli. Os camaroneses fizeram 1 a 0 com Milla no primeiro minuto do segundo tempo extra. Aos quatro minutos do segundo tempo da prorrogação, Higuita, que vinha sendo considerado o melhor goleiro da Copa até o então, foi sair jogando com os pés e perdeu a bola para Milla que marcou o segundo com gol vazio. A Colômbia ainda diminuiu faltando cinco minutos para o fim da prorrogação, mas não foi o suficiente para avançar às quartas de final, o que só veio acontecer 24 anos depois, no Brasil em 2014.

Confira os gols do jogo na transmissão colombiana

A Colômbia ainda disputou as duas Copas seguintes, nos Estados Unidos em 1994 e na França em 1998, mas em ambas os tricolores não passaram da primeira fase, perdendo duas partidas e ganhando apenas uma. Fora das Copas de 2002, 2006 e 2010, os colombianos retornaram à Copa do Mundo em 2014 e liderada por James Rodríguez, chegou a sua melhor campanha na história da competição, como já dissemos.

Em 2018, a seleção segue sendo comandada por James Rodríguez e ainda terá a presença do centroavante Radamel Falcão Garcia, maior artilheiro da história da Colômbia, que em 2014 foi cortado após se lesionar meses antes do Mundial. Enquanto isso, aquela Alemanha Ocidental terminou a Copa da Itália como campeã invicta, com cinco vitórias e dois empates, um deles justamente contra essa histórica Colômbia.
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