Neymar deveria fazer um bom curso de interpretação teatral

Por Miguel Hernandez*
Foto: Getty Images.com/Fifa.com

Neymar chorando ao fim da partida: foi encenação?

Após assistir o jogo entre Brasil e Costa Rica na Copa da Rússia, percebi que uma melhora na performance cênica de Neymar poderia tornar o jogador quase imbatível. Não é uma piada, seria de muita utilidade ao seu desempenho que ele soubesse das descobertas de alguns mestres sobre a arte do ator.

Como ser eficiente na comunicação de uma ideia ou emoção por meio da ação e do gesto, saber identificar e compreender para quem se atua em cada momento, são conhecimentos experimentados e discutidos na obra dos mestres russos Stanislavski e Meierhold, dos alemães Piscator e Brecht, do francês Artaud, do polonês Grotowski e dos brasileiros Abujamra, Antunes Filho, Zé Celso. Portanto, há todo um corpo de conhecimentos que poderiam colaborar para a melhoria da atuação no jogo. 

Não se discute a quantidade de jogos que foram decididos por detalhes referentes a atuação expressiva dos jogadores. Mesmo caminhando para o mundo datacêntrico, ainda há muitas brechas para a interpretação humana na definição dos resultados, por meios distintos das habilidades técnicas requeridas pelo jogo.

Neymar cometeu quatro falhas que revelam uma falta de domínio emocional e ineficiência na escolha da linguagem usada para convencimento do seu público alvo. Os quatro erros são: 1 – O exagero e valorização gestual na queda do pênalti que foi cancelado; 2 – o descontrole do gesto que o levou a sofrer o cartão amarelo; 3 – a escondida de rosto após o erro de finalização; 4 – o choro no meio do campo após o final da partida.

1 – O exagero ou overacting na linguagem do ator consiste em supervalorizar um gesto, uma emoção para o convencimento do seu espectador da verdade daquela situação. Se houve a injustiça e ocorreu realmente a falta no pênalti, o exagero colocou em dúvida a decisão do juiz e pela consulta do vídeo percebemos a simulação do exagero que inutilizou a pequena infração. Seu público nesse momento foi o juiz, que já havia revelado um rigor e uma postura clara de que não iria cair em qualquer simulação. Neymar não compreendeu quem era seu público e não conseguiu atingir em nenhuma tentativa o seu fim que era o convencimento de seu espectador para reagir a seu favor.
2 – A tomada do cartão amarelo foi outra consequência da incompreensão de que seu público, também neste momento, era o juiz. Estava claro que a relação entre jogador e juiz já estava crítica pela sobrevalorização das quedas e excesso de reclamações e o gesto agressivo, meio infantil, pirracento, de atirar a bola longe pela insatisfação com a decisão do árbitro. O exagero justificou a repreensão pelo amarelo, que poderá prejudica-lo e tirá-lo de algum futuro e decisivo jogo. Ainda mais se pensarmos que em nenhum caso na história do futebol a decisão de um juiz foi alterada em lances sem importância que acontecem no meio do campo.
3 – Esconder o rosto porque errou? Não devemos ter vergonha de nossos erros se são resultados de tentativas. Isso nos fragiliza e dá confiança ao adversário. O público aqui são os próprios jogadores, dos dois times. É muito mais eficiente valorizar a tentativa e com isso insuflar força em sua equipe para continuar tentando. 
4 – O choro solitário no final da partida, claramente foi uma encenação feita para câmera com intenção de atingir os milhares de espectadores que veriam aquele momento. Um choro coberto com as mãos no rosto, revelado em travelling circundando o jogador. É um efeito muito usado na linguagem da telenovela. Reagir a felicidade, ao sucesso, com a expressão do choro é macular o riso. É muito mais nobre honrar a felicidade com o jubilo, com a expressão da satisfação. Não devemos nos envergonhar de vencer, de conseguirmos ser bem-sucedidos. O desastre da copa passada ficou marcado com uma equipe que se revelou um bando de chorões, o que me deixou desconfiado da expressão dos choros que costumamos chamar de mexicanos. Com a ressalva de que os jogadores da seleção do México demonstraram júbilo e riso em vez de lamentações, em sua grande vitória diante da Alemanha.

Temas para a reflexão: que tipo de mensagem Neymar tenta construir com essa cena? A quem se dirige? Quem é atingido por esse tipo de sugestão emocional? O que se quer alcançar com isso? A quem serve essa demonstração?

* Miguel Hernandez é ator e diretor teatral, além de ter estudado Comunicação de Massa na Unisantos
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