Plínio Marcos - O torcedor do Jabaquara que amava o Futebol

Por Lucas Paes


Se vivo hoje, o grande dramaturgo Plínio Marcos estaria completando 82 anos neste dia 29 de Setembro. Apelidado de “repórter do submundo”, foi um dos primeiros a escrever sobre o que acontecia nas ruas: as drogas, prostituição, violência e homossexualidade. Ele mesmo afirmava ser uma “figurinha difícil”. Plínio era também um fã doente do futebol e muitas vezes enveredava nas relações com o esporte bretão.

A ligação dele com o futebol começa já no inicio de sua vida, na cidade de Santos. Além das peladas de sua infância, tentou ser jogador de futebol, passando pela Portuguesa Santista na base, porém nunca se profissionalizando. Sua relação com o esporte mais popular deste país não terminou assim. Como já dito, por vezes o tema retornava em seus escritos, relacionado ao mundo suburbano ou simplesmente falando da paixão do esporte em si. 

Para começo de conversa, ele era torcedor fanático do Jabaquara. Na época de sua infância, o Jabuca era o Leão do Macuco e era um time fortíssimo. Concorrente do Santos de Pelé e de uma Portuguesa Santista que dava um trabalho imenso, numa época de ouro para o futebol da cidade. Época que surgiu um tal de Gilmar, mas também época de boas campanhas para os rubro-amarelos.

Uma curiosidade do fato dele torcer para o Leão da Caneleira é que Mário Covas, político que era santista fanático, sempre escrevia telegramas para Plínio dividindo as comemorações por titulos do Alvinegro Praiano. Mal suspeitava o ex-governador de São Paulo que o dramaturgo na verdade era torcedor do Jabuca.

Ele viveu os primeiros anos de sua vida dentro do clube, o que tornou impossível que não virasse torcedor. Jamais realizou, porém, o sonho de jogar com a camisa rubro-amarela. Seu irmão Neto passou por lá, mas ele acabou optando por jogar na Briosa e esteve durante algum tempo nas categorias de base. Teve chance de se profissionalizar em um time do Vale do Paraíba, mas voltou para Santos devido ao fato de que teria que trabalhar como peão numa fábrica, para completar o salário.

Plínio Marcos faleceu em 1999

Sem conseguir veredar o caminho da bola, ele decidiu por seguir a rota da literatura e dramaturgia, onde acabou por ser genial. Escreveu sua primeira peça aos 22 anos, chamando já a atenção de Patrícia Galvão (Pagu). Esteve no jornal Última Hora, numa coluna de contos que depois passou a ter crônicas e se chamava “Navalha na Carne”, que depois virou o nome de um livro e acabou se tornando filme. Por vezes, o futebol foi assunto das crônicas e contos da seção. O tema de suas crônicas sempre foi o povo das “quebradas”, esquecido e ignorado pelas autoridades e pela sociedade.

A primeira ligação de Plinio diretamente com o jornalismo esportivo acontece em 1975, quando é contratado pela revista Veja. O problema é que em suas colunas figuravam frequentes críticas a dirigentes, cartolas e, claro, ao regime militar. Acabou não durando na revista, saindo no ano seguinte. Apesar de sua carreira em grandes veículos jornalisticos ser abreviada por suas fortes posições políticas, continuou contribuindo com diversas publicações até o fim de sua vida. Entre elas, o Lance, um dos jornais mais famosos de futebol do Brasil.

No jornalismo ou não, seus contos e crônicas muitas vezes faziam referência ao futebol, algo que não é tão estranho, quando se pensa que eles relatavam a realidade suburbana. Alguns mostravam o futebol como plano de fundo para a realidade social, como em contos de “História das Quebradas do Mundaréu.” Outros falavam diretamente no assunto, como “Dois times sem jogo” e “Somente uma vez na vida”, ambos disponíveis no site http://www.pliniomarcos.com. Em ambos, é nitido o linguajar de “quebrada”.

Era tão ligado ao esporte que cansou de viver histórias pitorescas relacionadas a ele em sua vida. Uma vez, na Veja, fez uma critica a situação que Estevam Soares vivia depois de uma lesão. Foi questionado por um delegado sobre isso, conseguiu se livrar das acusações. Depois de algum tempo, o mesmo delegado foi cobrar a promessa de que ele faria Estevam jogar no América, do Rio. Plinio tirou sarro do fato do delegado torcer para o Mequinha, mas ele torcia para o Jabuca, afinal de contas.

Depois de fugir de casa aos 15 anos e acabar voltando depois em estado ruim, passou a viver na “boemia”, frequentava um cabaré na Praia Grande, onde tinha uma “namorada”. Nesta época, muito graças a seu relacionamento, jogava um campeonato entre os cabarés, que segundo ele, envolvia “cantores, músicos, choferes de praça, policiais, bandidos, toda sorte da malandragem.

Plínio Marcos no Roda Viva

Talvez uma das maiores mostras da ligação Plínio Marcos e futebol veio já muitos anos depois que ele partiu deste mundo. Graça Berman adaptou vários textos do dramaturgo para uma única peça, chamada “A Bola da Vez: Plínio Marcos”, que mostrava a visão dele sobre o esporte, com vários de seus contos sendo utilizados e diversos personagens aparecendo no palco, estando o próprio escritor entre os personagens, claro, interpretado por um ator. O projeto da Cia Letras em Cena buscava mostrar a visão de escritores brasileiros sobre o esporte e Plínio acabou sendo um dos escolhidos. 

Morreu em 1999, devido a complicações das diabetes, caminho infelizmente comum para quem, como ele, experimentou a bebedeira durante boa parte da vida. Foi enterrado com a bandeira do seu amado Jabaquara no caixão. Nem na morte o separou do futebol e do seu “Jabuca”, eterna paixão de sua vida.
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Um comentário:

  1. PM um ícone da cultura nacional,o ex-novo Nelson Rodrigues.Conheça-o melhor e desfrute de uma inteligência absurda assistindo ele no Roda Viva de 1988 com apresentação do torcedor do "Pêxe" Tonico Ferreira.Imperdível!

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