O negro no Futebol Brasileiro - Quem foi o pioneiro?

Por Victor de Andrade

Migué do Carmo, Francisco Carregal e Vasco de 1924: importantes

Neste 13 de maio de 2017, data que marca os 129 anos da sanção da Lei Áurea pela Princesa Isabel, que marcou o fim da escravidão de negros no Brasil, O Curioso do Futebol faz um levantamento de quem foi o pioneiro em utilizar afrodescendentes em suas equipes: Vasco da Gama? Bangu? Ponte Preta? Antes de iniciar a explicação, podemos dizer de antemão que apesar de ser um pioneiro, todos os clubes citados foram muito importantes na inserção do negro no futebol.

Para quem não sabe, o futebol foi introduzido no Brasil pela elite, que era majoritariamente branca, até porque, naquele momento, os negros tinham acabado de ser libertos e muitos não eram aceitos pela sociedade, mesmo com a Lei Áurea em vigor. Porém, em cidades mais cosmopolitas do país naquele final de século 19, como o Rio de Janeiro e Santos, onde os portos influenciavam na modernidade, há relatos de marinheiros ingleses jogando futebol em alguns cantos das duas cidades, antes mesmo de Charles Miller. Inclusive, há um interessante relato da própria Princesa Isabel relatando um tipo de esporte em seu diário cuja as características são as mesmas do futebol.

Agora vem a primeira curiosidade: os portos, por terem muitos estrangeiros que estavam já acostumados a não escravizarem negros (não podemos esquecer que o Brasil foi o último país no mundo a revogar a escravidão), eram um dos poucos locais que aceitavam afrodescendentes como funcionários, principalmente como temporários nos navios atracados. E existem algumas pessoas que afirma que os marinheiros jogavam futebol com os negros nas cidades portuárias.

O Vasco de 1924, com vários negros na equipe

Explicando isso, vamos aos clubes. É comum escutar que o Vasco foi o pioneiro a aceitar negros em seu time de futebol. Na verdade, o time da colina foi o primeiro clubes a ter um time de futebol com a maioria de negros e ter saído em defesa deles com a famosa carta em defesa deles (conheça a história completa aqui), onde os clubes da elite na época, Flamengo, Botafogo e Fluminense, não queria aceitá-los na Liga e o Vasco os defendeu e criou uma nova associação para que eles pudessem jogar um campeonato.

É claro que a atitude foi importantíssima, pois foi a primeira entidade a defender oficialmente a presença de negros no futebol, mas o Vasco só passou a ter seu departamento da modalidade apenas na década de 20, já com afrodescendentes, mas antes disso eles já haviam jogado por outros clubes. Então, apesar da importância, o Clube da Colina não foi o pioneiro nesta questão.

Francisco Carregal, sentado no centro da foto

Em 1904, 20 anos antes da carta do Vasco, o Bangu, clube de um bairro proletário onde negros eram aceitos, foi fundado e já em seus primeiros jogos contava com um afrodescendente: o operário Francisco Carregal. Em partida contra o Fluminense, time influenciador da cultura aristocrata da época, em 1905, o Bangu escalou o tecelão da fábrica.

A presença de Carregal fez com que em 1907, a Liga Metropolitana de Football do Rio de Janeiro, organizadora do Campeonato Carioca da época, publicou uma nota proibindo “pessoas de cor” de participarem dos campeonatos de futebol. Por isso, o time do subúrbio do Rio optou por abandonar a Liga e não disputar o Campeonato Carioca daquele ano, já em uma atitude em defesa de seu atleta.

Migué do Carmo: o pioneiro, na Ponte Preta

Apesar da bela postura do Bangu, houve um time que antes disso tinha negros em seu plantel. A Ponte Preta teve negros em sua fundação, em 1900, e um deles, Miguel "Migué" do Carmo (conheça mais sobre ele aqui), jogava com a equipe de futebol nos primeiros jogos do clube, tornando-se o primeiro afrodescendente a jogar oficialmente uma partida.

O feito fica mais interessante quando se sabe que Campinas era uma cidade, na época, conservadora e que muitos setores da sociedade não aceitavam negros e, até por isso, a Ponte Preta foi fundada. Contudo, o time não disputava o principal campeonato do estado de São Paulo (a locomoção entre Campinas e a capital não era das mais fáceis) e, portanto, o feito de Migué do Carmo à época não é muitas vezes reconhecido. Porém, o pioneirismo do negro no futebol brasileiro é sim da Ponte Preta.
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