Caxias, o campeão gaúcho de 2000 com Tite como treinador

O Caxias surpreendeu o Rio Grande do Sul em 2000

O Campeonato Gaúcho passou de 1955 a 1997 tendo apenas Grêmio e Internacional como campeões. Em 1954, o campeão foi o extinto Renner. Em 1998, o Juventude, de Caxias do Sul, clube que contava, na época, com o apoio da Parmalat. Dois anos depois, no último campeonato do Século XX, foi a vez do rival do Juventude, o Caxias, levantar a taça do Gaúchão pela primeira e, até agora, única vez.

Realmente 2000 foi o ano da maior glória do Caxias em sua história. Atormentado pelos sucessos do arquirrival Juventude, há muitos anos na Primeira Divisão do Brasileiro, campeão da Copa do Brasil 1999 e que havia sido o primeiro time do interior a ganhar o Gauchão em 50 anos, o time grená precisava dar a volta por cima. E conseguiu!

A diretoria do clube grená contratou o técnico Tite para montar o elenco. Conhecedor do futebol gaúcho, ele foi buscando jogadores que conhecia pelo interior, montando uma equipe forte e ‘peleadora’.

Naquele ano o estadual foi disputado em um octogonal em ida e volta, com os campeões de cada turno fazendo a decisão. Era a clássica "Fórmula Fraga", muito utilizada nos anos 70. Mas para chegar lá, o Caxias precisou se classificar em uma fase inicial somente com times do interior, enquanto a dupla Gre-Nal e o Juventude disputavam a Copa Sul-Minas. O time grená ficou em segundo, atrás somente do Esportivo.

Em março, começou o Gauchão em sua fase quente. No primeiro turno o Caxias começou vencendo o Passo Fundo por 4 a 0, depois o clássico "Ca-Ju" contra o Juventude em pleno Alfredo Jaconi por 1 a 0 e empatou o "Clássico da Polenta" em 0 a 0 com o Esportivo na antiga Montanha, em Bento Gonçalves. A campanha crescente ganhou força após bater, ao natural, o Internacional por 2 a 0 no Centenário. O único tropeço viria a seguir, um 2 a 0 para o 15 de Novembro em Campo Bom.

Jogadores exibem a taça

Na penúltima rodada, um 4 a 3 contra o Santa Cruz, aliado a um 1 a 1 no Gre-Nal, deixava o Caxias com uma vantagem de um ponto sobre o Grêmio. Com remotíssimas possibilidades, o Inter precisaria vencer o Juventude em Caxias por dois gols de diferença e torcer por um empate entre Caxias e Grêmio na última rodada.

Porém o jogo final daquele turno era no Olímpico. Com um estádio lotado, repleto de estrelas como Danrlei, Zinho e Ronaldinho, além dos argentinos Astrada e Amato, o Grêmio era favorito. Uma vitória simples já deixava o Tricolor, então treinado por Antônio Lopes, classificado para a final.

Só que o Caxias não quis nem saber e saiu na frente com um golaço de Ivair, sem chances para Danrlei. O Grêmio empatou ainda no primeiro tempo, com um gol de Amato, mas logo depois Jajá fez 2 a 1 para o Caxias. O time de Tite estava na final!

No segundo turno, já na decisão, desmobilizado e preservando jogadores para a fase final, o Caxias novamente foi protagonista. Na última rodada, ao levar 1 a 0 do Grêmio com um gol de Itaqui, o Caxias viu a equipe gremista se classificar para a decisão.

Então a finalíssima, o jogo mais importante da história do clube. Na primeira partida, em uma gelada noite de inverno no Centenário, muita confusão antes do jogo entre dirigentes e também na torcida. Dentro de campo, um nada humilde Grêmio não viu a cor da bola e foi dominado amplamente, do início ao fim. O Caxias empilhou chances, mas errava no nervosismo e na falta de pontaria do ataque. Somente aos 44 minutos, Gil Baiano fez 1 a 0 para o Caxias e colocou justiça no placar.

Foi o primeiro título de expressão de Tite como treinador

Logo a três minutos do segundo tempo, Ivair cobrando falta ampliou: 2 a 0. O veterano goleiro Sílvio (Danrlei fora barrado pelas más atuações naquele Gauchão), ainda buscaria a bola outra vez dentro do gol gremista, através de Márcio aos 22 minutos. E isto que o tosco centroavante Adão, que depois jogou no Grêmio, ainda perdeu ótimas oportunidades de ampliar o marcador. O escore final era de 3 a 0, e o Grêmio teria que fazer uma "epopeia" para reverter tão amplo marcador em uma decisão de campeonato.

O clima fora de campo já começou tenso, com os dirigentes gremistas anunciando um "Kosovo" em Porto Alegre (cidade então sitiada pelos sérvios na Iugoslávia), tentando intimidar o time de Caxias. Sem dúvida, uma expressão profundamente lamentável.

O jogo final foi adiado do dia 18 para o dia 21 por causa das chuvas, o que beneficiou o Grêmio, que esperava mais público. Ingressos populares levaram quase 30 mil torcedores ao Olímpico para a final. O clima era de esperança, que o clube do interior "amarelasse" e desse o título para o Grêmio.

Dentro de campo a partida começou com uma blitz gremista sobre o gol de Gilmar. Segura, a zaga de Émerson e Paulo Turra foi aos poucos controlando o ataque gremista, que enfim via uma boa atuação do centroavante argentino Gabriel Omar Amato, criando e desperdiçando algumas oportunidades.

Depois disto, o jogo foi extremamente truncado, com o Caxias se defendendo com segurança e o Grêmio só tendo chances nos instantes finais, com Amato perdendo ótima chance ao parar nas mãos de Gilmar.

Jogo no Olímpico foi difícil

No segundo tempo, aos poucos o Tricolor foi esmorecendo e a torcida do Caxias se animando nas arquibancadas. O grito de título estava próximo. No finalzinho da partida, pênalti para o Grêmio que Ronaldinho se preparou para bater. A estrela máxima do Tricolor e da Seleção Brasileira bateu mal, Gilmar pegou e o árbitro Carlos Simon aproveitou a deixa para encerrar o jogo.

Vários atletas iriam para a dupla Grenal. Paulo Turra foi para o Palmeiras e depois para Portugal, onde seria campeão pelo Boavista. Mas o comandante daquele time é que teria mais sucesso. Tite viria a ter uma carreira brilhante, com títulos em vários clubes, inclusive Libertadores e Mundial Interclubes. Mas o que ninguém apaga da história é que o Caxias tornava-se campeão Gaúcho.

FINAIS:

14 de junho
Caxias 3 x 0 Grêmio - Centenário, Caxias do Sul (RS)
Gols: Gil Baiano (44'/1ºT), Ivair (03'/2ºT) e Márcio (22'/2ºT).
Arbitragem: Carlos Eugênio Simon, auxiliado por Altemir Haussmann e Júlio César Santos.
Público: 13.369 pagantes. Renda: R$102.951,00.
Cartões amarelos: Jairo Santos, Sandro Neves e Ivair (C); Ânderson Lima, Marinho, Ânderson Polga e Jê (G).

CAXIAS:
Gilmar; Jairo Santos, Émerson, Paulo Turra e Sandro Neves; Ivair (Cláudio), Titi, Gil Baiano e Maurício (Márcio); Jajá (Moreno) e Adão. Técnico: Tite.

GRÊMIO:
 Sílvio; Marinho, Alex Xavier e Nenê; Ânderson Lima, Ânderson Polga, Gavião (Guilherme), Zinho e Roger (Jê); Ronaldinho Gaúcho e Adriano (Amato). Técnico: Antônio Lopes.

21 de junho
Grêmio 0 x 0 Caxias - Olímpico, Porto Alegre (RS)
Arbitragem: Carlos Eugênio Simon, auxiliado por José Carlos Oliveira e André Veras.
Público: 24.326 pagantes. Renda: R$193.174,00.
Cartões amarelos: Ânderson Lima, Ronaldinho Gaúcho, Alex Xavier, Zinho, Marinho e Roger(G); Paulo Turra, Gilmar, Sandro Neves, Titi e Adão(C).

GRÊMIO:
Sílvio; Ânderson Lima, Marinho, Alex Xavier e Roger; Ânderson Polga (Eduardo Costa), Itaqui (Beto), Zinho e Ronaldinho Gaúcho; Cláudio Pit-Bull e Amato. Técnico: Antônio Lopes.

CAXIAS:
Gilmar; Jairo Santos, Émerson, Paulo Turra e Sandro Neves; Ivair, Titi (Cláudio), Gil Baiano e Márcio; Jajá (Delmer) e Adão (Luciano Araújo). Técnico: Tite.
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Um comentário:

  1. Grande relato!
    Grande título!!
    Conheci o estádio Centenário quando visitei Caxias do Sul, pela segunda vez, em 2014.
    A camisa do Caxias eu já tinha, mas não perdi a oportunidade da visita, para comprar mais uma na Loja Ninho do Falcão.
    Parabéns pelo texto e boa sorte ao Caxias!!
    Marco Queiroz (Ilha do Governador, Rio de Janeiro/RJ).

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